Para falar de Liturgia, culturas e as expressões de fé e o jeito do povo celebrar, são importantes neste artigo falar das diversidades do nosso povo. Falar do povo da região norte e da Amazônia onde prevalece a cultura indígena, a forma como celebram a partir dos elementos da natureza. No sul encontramos a diversidade histórica herdada pelos colonos italianos, alemães, o jeito sério e diferente do povo ser, de se vestir, das danças e das expressões.
No sudeste encontramos mais diversidades, na cidade de São Sebastião, Rio de Janeiro, encontramos os traços da cultura afro, da alegria do povo carioca, do samba que se expressa nos pés e nos balanços dos braços, nos morros, as procissões de São Benedito, o jeito deste povo celebrar a vida. Ao lado, uma enorme diversidade, a capital paulistana sempre de braços abertos acolhendo seus filhos de todos os cantos do Brasil e do mundo, cada um com seu jeito de partilhar a vida.
Já a grande região Nordeste, encontramos a grande expressão do nordestino de celebrar a vida, com os clamores do povo sertanejo, do povo da roça, dos quilombos, ribeirinhos… Comunidades tradicionais e dos terreiros, no gingado das baianas, do balanço e do axé, de um povo lutador e que encontram no Padrinho Cícero, no Frei Damião, no Padre Ibiapina, em Bom Jesus da Lapa e junto ao Senhor do Bonfim o jeito romeiro de agradecer e celebrar.
Falar da Liturgia para mim é sempre algo fascinante e apaixonante, com todas estas culturas e expressões, falar de liturgia para mim é falar do próprio coração de Deus que pulsa em nosso corpo e de todas as criaturas. Posso expressar que percebo o toque de javé e ao mesmo tempo, sinto a transformação que ele opera em nós.
Posso dizer também que celebrar a divina liturgia, para mim significa experimentar do mistério do amor de Deus dentro de nossa realidade humana e nos jeitos do nosso povo.
A palavra Liturgia é de origem grega e quer dizer prestação de serviço comunitário, podemos encontrar em Romanos 13,1-7 e II Cor. 9,6-15 como Paulo usou neste mesmo sentido. Trazendo os fatos da Comunidade. Então podemos afirmar que Liturgia é uma ação a favor da Comunidade. Lendo os evangelhos percebi que toda vida de Jesus, passo a passo, foi uma prestação de serviço em favor das pessoas, ou como diriam os gregos, uma grande liturgia.
Fico sem entender quando vou a uma Celebração e encontro uma liturgia vazia, sem a partilha da comunidade, sem a vida da comunidade, desconsiderando as mais diversas culturas, posso até usar esta expressão “matando o jeito do povo ser e celebrar”.
Celebrar é sempre uma atitude de louvor a agradecimento, e cada comunidade, cada povo, com as suas culturas e expressões celebram do seu jeito, com os cantos que significam algo para as suas vidas, com os elementos que tem uma simbologia para toda a comunidade. Fico encantado com as comunidades que celebram trazendo os elementos para fazer parte da celebração, sejam os frutos da terra ou qualquer outro, mas tem uma importância significante para a vida do povo.
Celebrar é trazer as emoções, pelo motivo que faz a comunidade se reunir para agradecer ao Deus da vida. Nas celebrações: do Natal do menino Jesus, da Quaresma, semana santa e Páscoa de Jesus, nas festas dos padroeiros, aniversários, nas exéquias, em memória de alguém e no advento de Jesus, todas estas liturgias tem uma expressão de celebrar, e volto para as culturas e o jeito de cada povo, e o seu jeito de celebrar. E o povo sempre traz para as celebrações fatos que para eles são importantes e querem celebrar a partir da vida da comunidade. O jeito de cada povo celebrar não é errado, não é uma “anti-liturgia”, são as culturas e expressões de fé de cada povo e tudo têm um sentido significante.
Termino dizendo que celebrar é tornar real os mistério do amor de Deus, e como fazer isto? Com as palavras, e diria até, muito mais que as palavras, com os ritos, gestos, símbolos, musica, festa. A ritualidade eu diria que é essencial para vivenciar de fato o mistério. Pois, o nosso povo, o ser humano não é só cabeça, cérebro, intelecto; ele é corpo inteiro, olhos, ouvidos, paladar e coração, emoção e sentimentos. Ai está o mistério da divina liturgia, não é uma celebração mecânica, nem robótica, onde entramos e saímos pesados, decepcionados, mas o mistério da divina liturgia estar na vida que o povo traz e celebra.
Tiago Aragão – CPT Bahia/ Equipe Centro Norte.