No início de 1975, 11 anos após o início da ditadura civil militar brasileira que durou de 1964 até 1985, iniciei a viver, por 8 anos, o Brasil do interior do Paraná daqueles tempos, quando a chamada mídia eram somente algumas rádios gaúchas e a de Aparecida com padre Vitor Coelho, e o canal da globo que chegava no morro ventoso da cidadezinha sem asfalto, com certa intermitências quando chovia; não havia jornais nacionais facilmente disponíveis, exceto o semanal censurado “O São Paulo” da arquidiocese de Sampa.. Apesar disso, respirei profundamente o clima, com lutas, decepções e esperanças de três, entre tantas personalidades que tive a sorte de conhecer com seu testemunho vigoroso. Eles iam ao essencial do evangelho. Lembro aqui de dois bispos e de um leigo operário: Paulo Evaristo Arns, Angélico Sândalo Bernardino e Valdemar Rossi.
Um deles, dom Angélico é o autor desta reportagem do Instituto Humanitas de Porto Alegre, que partilho. Outro é o assunto principal desta reportagem. Ambos me confirmam hoje, após 41 anos, uma memória rebelde e profética que ecoava em todos nós que vivíamos, nesses mesmos tempos em que iniciamos a prestar atenção ao Índios, cuja Funai estava nas mãos “confiáveis” da ditadura por meio de Jucá Romero. Este cancelado no governo golpista recém empossado, estava construindo, nesses mesmos tempos, seu império da mineração e da mídia, em Roraima. Em contraposição surgiam, o CIMI fundado em 1974, a CPT em 1975 e a PO (Pastoral Operária). Foi o tempo também dos primeiros encontros intereclesiais das CEBs; entre eles, mar ecos marcantes chegaram, para mim, no interior do Oeste do PR desde Itaici – SP, com uma música que explicava: “Igreja é povo que se organiza, gente oprimida buscando libertação, em Jesus Cristo, a ressurreição” (4º Intereclesial, de 20 a 24 de abril de 1981).
O primeiro a me apresentar Valdemar Rossi foi o saudoso Plinio de Arruda Sampaio que veio em Cascavel nos animar, com o bispo dom Armando Cirio, para constituir uma comissão diocesana de Justiça e Paz e de Direitos Humanos. Lembro que Plínio nos dizia, com o orgulho de quem via finalmente um sonho começar a ser realidade: “Quem sabe, na próxima eleição para a chapada do Sindicato Operário em São Paulo, possamos ter, em lugar de Joaquinzão, um rapaz que é da conferencia de São Vicente de Paula, que é também cruzado mariano. E eles não se referia tanto à fé e à devoção religiosa de Valdemar mas à sua origem de trabalhador pobre que deu um duro mas jamais perdeu a fé…Eram os tempos em que a fé e a pertença à igreja eram valorizados sobretudo pela maneira com a qual padres, religiosos/as e leigos/as se inseriam no mundo com a humildade de quem assumia caminhar junto com os outros todos, dialogando e testemunhando valores evangélicos pelo companheirismo amigo e respeitoso que se partilhava em todos os aspectos da vida e cada vez menos por batinas e doutrinas a serem repassadas como fossem receitas complicadas. O que emocionava e convencia era a revelação do “companheirismo” amigo e respeitoso das história e riquezas que cada pessoa carrega em si. Creio que nos faria bem trocar ideias sobre o que não morre e o que deve mudar, quarenta anos depois, após fazer memória da vigorosa personalidade de Valdemar Rossi que aqui partilho com quem quiser rever ou conhecer.
Frei Luciano Bernardi
Coordenador CPT Bahia