O obscurantismo, desde os tempos remotos, tem sido uma forma de estabelecer as relações de poder e, muitas vezes, de dominação em vários povos ao redor do mundo. Nesse contexto, ao longo da última década fora possível perceber a ascensão da extrema direita, utilizando os mecanismos da recente engenharia social, promovendo o caos e a disseminação de notícias falsas com o intuito de manter, a qualquer custo, os ideais ultra-conservadores, colocando em xeque a ciência, as instituições democráticas e a vida das pessoas.
Em primeiro plano, destaca-se que o negacionismo é o processo de mistificação guiado pelo ataque ao pensamento crítico e reflexivo, por meio do enceguecimento. Dessa forma, os meios de comunicação de massa, principalmente as mídias sociais e plataformas de amplo acesso, tornaram-se vetor de informações que, em sinergia com as mazelas sociais e o novo coronavírus, ceifaram a vida de mais de 300 mil pessoas, no Brasil. Apesar do assustador número de óbitos em meio à pandemia, é notório que até mesmo o chefe do executivo, o presidente da república, minimizou os efeitos da pandemia na vida das pessoas, trazendo adjetivos como “gripezinha” ou chamando de “frescura e mimimi” o sentimento daqueles que perderam seus entes ou foram acometidos na situação do crescente desemprego que assola a sociedade brasileira. Devemos, então, observar o quão grave é o país ser guiado por pessoas (em posição privilegiada, diga-se de passagem), que utilizam a veiculação de notícias falsas, com o intuito de não admitir a incapacidade de gerenciar a crise em um país de dimensão continental, não apenas em termos geográficos, mas em desigualdades sociais.
Por conseguinte, vale lembrar que essa aglomeração de ideias da conhecida pós verdade, traz o chamamento à comunidade acadêmica para buscar entender e combater o negacionismo por meio do conhecimento que fora conquistado por nossos antepassados através de suor e sangue. Até quando continuaremos a ver pessoas queimadas na fogueira dos algoritmos de manipulação, a exemplo do nosso memorável educador Paulo Freire, que teve sua imagem deturpada por falsos intelectuais como Olavo de Carvalho a negação e a minimização dos problemas sociais, direitos trabalhistas e de uma doença mortal, continuarão matando pessoas, destruindo o ambiente e o conhecimento. Segundo o filósofo africano Achille Mbembe, todo esse contexto que estamos vivendo, se traduz em uma necropolítica pautada na proibição do pensar e do fim do diálogo.
Por fim, cabe a nós, enquanto sociedade não deixar o pensamento crítico morrer, pois, ao longo desse ano de pandemia, muitas vidas foram levadas como consequência do enceguecimento. É necessário, pois, a comunidade acadêmica participar mais ativamente desse processo de combate ao obscurantismo por meio de debates livres nas mídias sociais, de maneira acessível à toda comunidade. Dessa forma o negacionismo será combatido com a iluminação e a diversidade de pensamento, preservando o Estado democrático de Direito, a ciência e a dignidade da pessoa humana.
Por: Lu Mota – Agente da Comissão Pastoral da Terra, Jornalista e Digital Influencer