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CPT BAHIA

O protagonismo da mulher rural – “para não dizer que não falei das ‘flores’”

Marcha das Margaridas, 2019. Foto: Méle Dornelas – ISPN.

Entre os dias 13 e 14 de agosto aconteceu em Brasília (DF) a sexta Marcha das Margaridas, que reuniu milhares de mulheres trabalhadoras rurais (agricultoras, assalariadas, quilombolas, indígenas, pescadoras e extrativistas) de cada canto do Brasil reforçando a luta por direitos, o combate à violência contra a mulher e em defesa da Previdência Social, dentre outras questões.

O nome da marcha é uma justa homenagem à sindicalista paraibana Margarida Maria Alves, assassinada em 1983, aos 50 anos de idade. Em 2019, completam-se 36 anos do crime, sem que nenhum acusado por sua morte tenha sido condenado.

Diante da grandiosidade da Marcha e, sobretudo, pela imensa importância política que carrega (ainda mais em tempos de reafirmação de liberdade e democracia), faço justo a retomada (ainda que breve e recente) das lutas das mulheres por direitos.

Na literatura e pesquisas sobre a temática, as discussões sobre sexo e gênero no mundo do trabalho e no movimento sindical são, relativamente, recentes (a partir da década de 1970), e por sorte e visibilidade têm se avolumado entre as tantas interpretações e investigações de tantas e tantas mulheres que buscam problematizar questões “específicas” das mulheres e a importância das reivindicações e das organizações coletivas.

As agendas de gênero/mulheres nos sindicatos, por exemplo, são, em certa medida, uma herança dos movimentos de mulheres e feministas que emergiram nos anos 1970. Com efeito, uma boa parte dos novos personagens que entraram em cena nesse período era composta por mulheres, que transcenderam os espaços domésticos, influenciaram novos sujeitos coletivos e trouxeram à cena novas temáticas e problematizações.

No âmbito dos sindicatos isso repercutiu em uma aproximação e fortalecimento entre as organizações sindicais e as mulheres (que começaram também a se inserir massivamente no mercado de trabalho). Diante disso é inegável que pontuemos as influências e relações entre os movimentos de mulheres nos espaços urbanos e rurais, em torno de denúncias que muitas das vezes possuíam um pano de fundo comum: a opressão de gênero.

A partir de então, e levando em consideração a ebulição de meados dos anos 1980, incita-se ao sindicalismo a realização de encontros de mulheres como uma sinalização desse processo. Com isso, ocorreram uma série de debates e de denúncias públicas sobre as discriminações sofridas pelas mulheres nos espaços de trabalho e a dupla jornada feminina (exercida em casa e no trabalho), fazendo crescer os anseios por medidas que banissem a discriminação e que estivessem atentas às demandas das mulheres.

Os movimentos de mulheres foram muito importantes ao longo dos anos 1970-1990, especialmente, diante do processo de redemocratização. Nesse período, elas se fizeram porta-vozes dos mais diversos setores populares. Além disso, esboçou-se a possibilidade de abertura a um espaço para a discussão da condição e das práticas das trabalhadoras, de suas reivindicações e das modalidades que assume a divisão sexual do trabalho nas unidades de produção.

Diante das desigualdades nas relações de poder e gênero é que as trabalhadoras rurais começam a perceber as relações assimétricas de poder. E a partir daí é que foram introduzidos outros símbolos, até então ausentes na linguagem sindical. Entre os movimentos de mulheres trabalhadoras rurais as demandas estavam assentadas ainda sob o campo do acesso aos direitos dos/as trabalhadores/as e à cidadania. Assim as questões de gênero (mulheres) foram se tornando cada vez mais presentes nas agendas dos sindicatos.

Desde a sua primeira edição, em 2000, a Marcha das Margaridas leva a Brasília milhares de trabalhadoras rurais para reforçar as conquistas e reafirmar a luta. Salve às Margaridas!

Camilla de Almeida Silva – Colaboradora da CPT Bahia/Juazeiro, pesquisadora das relações de gênero e trabalho, e doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco.

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