Moramos no Território de Irecê, na parte norte da Chapada Diamantina, também conhecida como chapada setentrional, nosso Território é marcado por muitas belezas, um povo forte e determinado que vive na luta e na lida cotidiana por sobreviver diante das adversidades. Aqui nesse pedaço de chão é também chamado de Sertão, o sertão é o lugar onde as pessoas não nascem fortes, elas se fazem fortes, ou como Guimarães Rosa dizia no Grande Sertão: Veredas: “O Sertão é uma terra de quem é forte, com as astúcias”.
O sertão do maxixe, do bode, da alfavaca, do velame, do quebra facão, dos cheiros da Caatinga antes, durante e depois da chuva, do samborá, do mel de abêa, das cores e texturas. Pois bem, nasci nesse sertão e dele aprendi a ser forte e aprender as astúcias, nas brincadeiras, nas pêas (surras), nos afazeres cotidianos para tirar da terra o mantimento, não entendia muito o que e nem porque fazia certas coisas, mas sabia que o sertão crescia dentro de mim, e fui criando aquele amor que não nos larga, aquele amor apegado, grudado e bonito. “O sertão é dentro da gente!”.
No meio do sertão aprendi a conviver com a Caatinga, pois bem é dela que quero falar. A Caatinga é um dos maiores biomas brasileiros, ocupa grande parte da área do Nordeste. A palavra Caatinga, na língua indígena, significa Mata ou Floresta Branca. Nós caatingueiros sabemos que essa origem faz muito sentido, pois a Caatinga passa por um bom período do ano, com um aspecto branco, acinzentado, para os sertanejos esse período na Caatinga é chamada de período “seco”, pode durar ente seis e oito meses dependendo da região. Quando a caatinga começa emitir brotos, aí, sabemos que começa um novo período, é indicativo que a chuva tá chegando e com ela a esperança do plantio e da colheita, é hora de desentocar as sementes carinhosamente guardadas para iniciar o plantio, pois estamos no período “verde”.
Nesse momento na caatinga, se expressa uma grande diversidade de vida e de beleza, folhagem verde contrastando com tonalidades de amarelo das flores das primeiras águas, o rosa das flores da jitirana e o branco das flores do moleque duro, além dos feijõezinhos de rolinha entre outras. Como diria Suassuna, os biomas tem uma beleza permanente, mas a “Caatinga tem uma beleza inteligente!”.
Pássaros fazem a festa, o sabiá, o azulão, o cabeça de lenço, o bem-te-vi e o beija-flor tão pequenino e ágil.
O tatu, a onça suçuarana, o teiú e outros bichos que outrora fartos na Caatinga agora escassos, extintos.
O ser humano parte integral da fauna, explora, mata, extingue e não entende o seu papel. O dia 28 de abril é celebrado o Dia Nacional da Caatinga, mas nós que lutamos pela sua existência e preservação a celebramos o ano todo, por isso, conclamo a todos e a todas uma reflexão sobre nosso bioma, sua importância e sua preservação. O que fazermos? O que você tem feito para mantê-lo vivo?
Se o sertão é dentro da gente, por que insistimos em destruir?
Viva a vida! Viva a nossa Caatinga! A partir de hoje que tal começar a coletar as sementes, plantar uma árvore, proteger uma vida nesse bioma, até mesmo a sua!
Salve
nossa Caatinga!
Marilza Pereira da Silva (Índia) –Pedagoga licenciada pela UNEB. Técnica em Agropecuária. Sócia-colaboradora do Instituto de Permacultura em Terras Secas – IPÊTERRAS. Membro do grupo de Pesquisa Genttes.