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CPT BAHIA

Parceria entre CPT e Movimiento Por La Tierra e Território busca fortalecer trabalho com povos e comunidades do campo na América do Sul

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) se junta ao Movimiento Por La Tierra e Território (MRTT), da Bolívia, em uma articulação para sistematização de casos inspiradores de luta e resistência no campo brasileiro e boas práticas de produção, cultivo, criação de animais, pastoreio, extrativismo, comércio solidário, dentre outros.

A aproximação entre CPT e MRTT se deu em 2016 pelas afinidades de interesses e nas formas de atuação, pela sensibilidade diante dos povos do campo e pela insurgência diante das investidas do capital especulativo agrário e pelas ondas de expansão das fronteiras, a exemplo do Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA.

Identificadas as afinidades em suas missões e a necessidade de atuação conjunta, neste ano de 2018, entre os dias 03 e 25 de fevereiro, Cláudio Dourado, agente da CPT na Bahia, realizou um intercâmbio com o movimento boliviano com o objetivo de compreender e conhecer na prática o trabalho de sistematização e estudo de caso realizados pelo MRTT. E, a partir disso, pensar e construir um projeto de trabalho para o Brasil. Hoje, além de integrante da Pastoral da Terra, Dourado é articulador do Movimiento no Brasil. (O primeiro caso já foi identificado e sistematizado. Confira abaixo)

O Movimiento Por La Tierra e Território é uma iniciativa única em seu gênero, que permite nutrir uma análise comparativa e propositiva a partir de estudos de realidades locais e nacionais para construir um olhar regional, na América do Sul, com famílias camponesas, comunidades tradicionais e povos originários que defendem a vida no campo.

O MRTT pretende sistematizar e publicizar mil estudos de casos sobre experiências concretas e inspiradoras de acesso e retorno à terra e ao território em toda a América do Sul – apenas no Brasil, através da parceria com a CPT, serão compilados 400 casos. Esse amplo estudo se torna possível a partir do estabelecimento de alianças com pessoas, organizações e instituições que vêm construindo articulações e empatias campo-cidade, e transgridam as tradicionais formas de construir o conhecimento.

As sistematizações, para o movimento boliviano, surgem como resposta às crises global e, principalmente, às mudanças climáticas e a produção de alimentos. Habitualmente, os meios tradicionais de comunicação têm relacionado o campo como um espaço de vida arcaico, onde, tradicionalmente, o desenvolvimento rural remete à pobreza, expulsão de camponeses, insatisfação de necessidades, marginalização, insustentabilidade, etc. Um discurso reiterativo e rígido que subestima e relega a vida no campo.

O Movimiento Por La Tierra e Território nasceu, então, em reação a estes enfoques e práticas, propondo um novo olhar em relação ao campo. Propõe uma grande mobilização dos aliados pela terra em toda América do Sul a fim de impulsionar uma mudança de perspectiva a respeito do campo, suas populações e seus territórios. E tem como principal objetivo reunir casos de acesso à terra através de um processo maciço de reflexão que começa a despertar ações e incidências concretas com populações camponesas, comunidades tradicionais e povos originários como quilombolas, geraizeiros, fundos e fechos de pasto, indígenas, dentre outros.

Confira imagens do intercâmbio com as comunidades na Bolívia e com o MRTT:

Além disso, o MRTT propõe, junto com seus parceiros, como a CPT, comunidades e camponeses:

a) Uma reflexão aberta através do exercício metodológico criativo, a fim de reconhecer nos sujeitos do campo o protagonismo de suas vidas, a dignidade em suas histórias e a vinculação propositiva com seu entorno no meio Rural. A valorização dos recursos naturais e a soberania alimentar frente ao capitalismo, a expansão do latifúndio e o agronegócio.

b) O apego e o retorno ao campo, destacando boas práticas de acesso, controle e produção que permitem vislumbrar alternativas que provém do campo e, com isso, pretende-se incidir na agenda pública, na sociedade rural e urbana, sobre a pertinência de considerar a agricultura familiar camponesa, tradicional e indígena como uma possibilidade certa, dinâmica, efetiva, exitosa e capaz de se reerguer diante das crises.

c)Efetivação de diferentes atividades, encontros e mobilizações em toda a América do Sul para promover as estratégias inovadoras das populações rurais ao sustentar sua vida no campo e sua potencialidade para desenvolver práticas produtivas e alternativas ao capitalismo. Além de processos de intercâmbio e de troca de saberes entre organizações e instituições de diferentes países, compartilhando experiências e enriquecendo as estratégias de lobby, com incidência sul-americana.

d) Despertar o protagonismo dos jovens e mulheres que optam pela terra e se dedicam à agricultura e, portanto, propõem políticas públicas sobre o acesso à terra, o controle e a gestão do território, a produção familiar sustentável de alimentos e o desenvolvimento rural em geral.

(Fonte: CPT Nacional | Imagens: Cláudio Dourado – CPT Bahia e Articulador do MRTT)

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