O Grito dos Excluídos da Paróquia Senhor Bom Jesus da Boa Vida de Cordeiros (BA), aconteceu no último sábado, dia 09, às 19:00h, com a concentração das pessoas no Centro Cultural Mariano seguindo em caminhada pelas ruas da cidade, finalizando na Praça Cel. José Moreira Cordeiro. O evento foi organizado pela Pastoral da Juventude, com a participação de nove grupos de jovens da Paróquia que apoiou o Grito juntamente com o Departamento Municipal da Juventude, o Conselho da Juventude e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Os cartazes e faixas apelavam pela democracia e denunciava o atual governo, entre elas o “Fora Temer”. Entre as atividades desenvolvidas, foram declamadas poesias com uma reflexão crítica sobre o cenário atual do nosso país, pelas jovens Jaqueline Pereira, da comunidade Santa Luzia, do Peixe; e Samara Almeida, da comunidade Sagrado Coração, de Jesus, de Malhada Grande. Além de apresentações em forma de jogral, pelo grupo Ramos da Videira, do Zonal de Água Branca; uma paródia pelo grupo Unidos por Cristo; e uma poesia sobre mineração, pelo grupo Rocha Viva, que tem este nome em homenagem a uma rocha existente na localidade, que está sendo ameaçada pela mineração.
Em seguida, João Batista, agente da CPT, trouxe elementos sobre os eixos de reflexão da CNBB para o Grito dos Excluídos deste ano. A afronta a democracia pautada nas atuais reformas e nos altos salários do Poder Judiciário e Legislativo em detrimento do salário mínimo ou daqueles que vivem com menos de um salário por mês. Outros temas foram refletidos como o extermínio dos negros e a violência contra as mulheres e os indígenas, assim como a necessidade de democratizar a mídia e os percalços da reforma política que se encontra parada há 14 anos no Congresso Nacional. Ficaram alguns questionamentos às organizações sociais quanto ao contexto atual e da necessidade de ocupar as ruas e gritar pela democracia denunciando a ilegitimidade do atual governo.
O Grito foi encerrado com uma apresentação musical das jovens Cinthia Silva, da comunidade de Malhada Grande, e Elaine Maria de Jesus, da Paróquia de Condeúba. Não obstante, “Por direitos e democracia – a luta é todo dia”.
Ao final, aprecie uma das poesias recitadas no evento.
Texto: João Batista e Mildaiza Figueiredo
Poesia: Ivonete Donato, Comunidade de Tapera do Rochedo.
Em forma de poesia
uma coisa vou dizer
O cerrado é a maior caixa d’ água
Precisamos dele para viver.
O cerrado é essencial
E eu vou explicar
À água que ele retém
Na catinga vai jorrar.
Qualquer mal a ele causado
Seria um grande tormento
Porque sem a sua existência
Todos viveriam dias de sofrimento.
A mineração não pode existir
Porque essa atividade
As comunidades tradicionais
Trariam o fim.
Os nossos fechos de pastos
Precisam ser preservados
Visto que é local de solta na seca
Onde alimenta o nosso gado.
A informação é indispensável
Pois o povo conscientizado
Que vai para pra luta
Parar esse mercado.
Para a mineração um recado vou dar
Pode ir se achegando pra lá
Porque na nossa terra
Não vamos deixar você entrar.
Uma coisa vou falar
Para por fim ao preconceito
Além de catingueiros
Também somos geraizeiros.
E geraizeiro sendo
Baianos não deixamos de ser
Já que a Bahia
É o melhor estado para viver.
O que digo não vem só de me
É um longo aprendizado
Pois em todas as lutas
A CPT está do nosso lado.
Em todos esses anos
Deu para aprender
Que a mineração
Só o mal vem trazer.
A nossa serra é encantadora para se olhar
No período de seca tudo morto parece estar
Mas quando chega a neblina de setembro
Tudo que parecia tá morto começa a brotar.
A serra geral precisa da nossa dedicação
Dela devemos cuidar
E não permitir
O trabalho dá mineração.
A mineração tem muito poder
É capaz de acabar com a memoria que temos
Portanto fiquem espertos
Porque sem história futuro não teremos.
Para vencermos essa luta
Todos devem se empenhar
Município, igreja e o povo
Para construirmos um mundo novo.