“Louvado seja meu Senhor pela irmã água!”. Este foi o lema do Encontro Minas-Bahia sobre os impactos da mineração no Cerrado, berço das águas, realizado em Montes Claros–MG, de 1 a 3 de março de 2024.
Por Dário Bossi | assessor CEEM-CNBB
Organizado por Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Atingidos por Mineração (MAM), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e Legião de Assistência Recuperadora, o evento reuniu cerca de 60 pessoas do norte de Minas e do sul da Bahia, com a participação do Arcebispo de Montes Claros, Dom José Carlos Souza Campos, da vida religiosa consagrada, de associações de pequenos produtores e comunidades quilombolas, do povo indígena Pataxó, do Conselho do território tradicional geraizeiro do Vale das Cancelas, da Caritas, do Centro de Referência em Direitos Humanos, do Conselho Nacional do Laicato, da Rede Igrejas e Mineração e da Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB. Participaram ao encontro também a deputada estadual Leninha Alves e a assessoria da deputada federal indígena Célia Xakriabá.
“O desenvolvimento nos empobreceu: roubou nossas terras e nossa cultura” – testemunharam as comunidades tradicionais atingidas pela mineração, com ameaça da expansão da mineração de ferro e de lítio na região.
Os impactos sobre os modos de vida das comunidades, o meio ambiente e o acesso à água são violentos, numa região de expansão do monocultivo de eucalipto e com ameaça de instalação de minerodutos, para o escoamento do minério com enorme quantidade de água.
“Porém, estamos conseguindo resgatar nossas terras de volta!” – destacaram os povos geraizeiros que conseguiram o reconhecimento de 73 comunidades tradicionais no norte de Minas. Frente à mineração e ao agronegócio, uma das estratégias que permanecem para resistir e garantir o direito a terra, teto e trabalho é a regularização dos territórios tradicionais.
Dom José Carlos ressaltou a importância de formar as consciências das pessoas para compreenderem os riscos da expansão da mineração em seus territórios e para que se organizem coletivamente para defenderem seus modos de vida e reivindicarem direitos a outras economias que protejam a Casa Comum. “Memória e projetos” – recomendou o bispo. “Um povo sem memória se vende facilmente! A memória conserva nossos vínculos ancestrais; os projetos compõem uma narrativa grande, comum, bem maior que os sonhos particulares de cada um”, concluiu dom José Carlos.
A rede Igrejas e Mineração e a Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB apresentaram o Atlas “Igrejas em cuidado da Casa Comum”, um mapeamento dos maiores conflitos provocados pela mineração no Brasil e da atuação da Igreja Católica junto às comunidades atingidas. O Atlas mostra que no Regional Leste 2 da CNBB (Minas Gerais) a Igreja está acompanhando 237 conflitos; no regional Norte 1 (Amazonas e Roraima), são 53 os conflitos acompanhados. Mesmo assim, ainda há muita desproporção entre as violações provocadas pela mineração nos territórios das comunidades e a presença da Igreja: a missão da Ecologia Integral e da promoção da Economia e Clara e Francisco ainda desafia muito nossa pastoral e nossa aliança com todas as pessoas de boa vontade, que lutam e defendem o Bem Comum!