A comunidade quilombola Saco Grande de Tixinha, em Ibotirama, sofreu um novo ataque neste sábado (12). Quilombolas denunciam que todas as telhas armazenadas para a construção de um barraco às margens do rio São Francisco foram destruídas. Além disso, a estrutura que vinha sendo erguida para apoiar atividades produtivas da comunidade foi completamente derrubada e queimada como vimos na reportagem anterior.
O barraco serviria como ponto de apoio para o plantio de mandioca, milho e outras culturas de subsistência, além de abrigo para os trabalhadores. A construção fazia parte dos esforços da comunidade para promover sustentabilidade, segurança alimentar e geração de renda, enquanto seguem na luta pela titulação de seu território tradicional, já certificado pela Fundação Cultural Palmares desde 2018.
Segundo relatos dos moradores, um cidadão que reivindica a posse da área — localizada na margem de um rio federal — seria o autor da destruição. Ainda não há confirmação oficial da autoria, mas os quilombolas afirmam que ele frequentemente ameaça os moradores e insiste em dizer que as terras pertencem a ele.
“Eu desconheço da Lei, mas isso aqui pra mim é um crime. Quer dizer que se um rico comete um crime, tem lei para isso? Eu queria saber se tem lei para toda essa destruição. Isso aqui é um grande desaforo uma coisa dessa”, desabafou um dos moradores, revoltado com a impunidade e a violência crescente contra a comunidade.
Este é o terceiro episódio de ataque registrado em menos de uma semana. No primeiro, parte da estrutura em madeira foi derrubada com o uso de motosserras e outras ferramentas. No segundo, toda a estrutura de madeira foi consumida pelo fogo. Desta vez, o prejuízo foi ainda maior: todas as telhas foram destruídas deixando a comunidade abalada e indignada.
Apesar da violência, os quilombolas seguem firmes em sua resistência. A comunidade continua cobrando providências das autoridades, exigindo a responsabilização dos autores e a garantia de seus direitos territoriais. A área reivindicada pelos fazendeiros está em processo de reconhecimento fundiário junto ao Incra, que já iniciou a tramitação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do território quilombola.
A luta pela terra não é apenas por espaço físico — é também pela vida, pela dignidade, pela história e pelas raízes profundas que essas famílias mantêm vivas há gerações. Os povos quilombolas de Saco Grande de Tixinha mostram, com sua resistência, que mesmo diante da violência e do descaso, a força coletiva, a ancestralidade e a mobilização são ferramentas fundamentais na defesa dos seus territórios e modos de vida.