TEMA: Romaria de canudos – experiência de fé, organização popular e de resistência em tempos de insegurança e medo.
LEMA: “Tu vens a mim com espada e lança, eu vou a ti em nome do senhor” (1 Sam. 17,45).
Trigésima terceira romaria de Canudos. Trinta e três anos nos separam da primeira romaria, quando esse rio de gente que a cada ano aparece como se estivesse saindo das grotas mais profundas da sociedade sertaneja, começava a percorrer o Sertão Nordestino. As Romarias estão sendo um retrato da realidade que a cada ano adquire uma nova feição, mas, ao mesmo tempo, são luz e força que servem de guia para uma parte da sociedade nordestina.
O tema desta 33ª romaria de Canudos, assim como o das precedentes, nos desvela a realidade atual. Estamos atravessando um deserto de insegurança e medo. Antes da pandemia que veio se instalar nestes tempos medrosos que estão mexendo com rotinas e formas de vida que ofereciam falsas seguranças, o povão empobrecido e a classe média que começava a se desiludir, sentiam-se ameaçados pelo desemprego ou pela falta de oportunidades de um trabalho seguro, pela violência urbana, pela omissão dos poderes encarregados de fazer justiça, pela falta de competência de um executivo perdido ante o rumo que vai tomando uma sociedade em mudança, pela parcialidade de um legislativo deixando-se levar pela melhor oferta vinda dos poderes factícios. Sim. MUITA INSEGURANÇA E MUITO MEDO está sendo o clima deste tempo.
Por outro lado, as Romarias de Canudos se consolidaram como uma experiência de fé, de organização popular, de resistência para uma sociedade nordestina que pretende ser um agente ativo, não apenas convidado de pedra nestes tempos desafios antes que estão gerando tempos novos. Quem participa das romarias de Canudos percebe que toda transformação social que quer ser duradoura, deve incluir os últimos, as organizações sociais que congregam os despossuídos, as minorias étnicas e raciais, os grupos e coletivos marginais. A sociedade, todo observador imparcial esta vendo, se constitui de baixo para cima. Os sociólogos mais honestos e sinceros não se cansam de repetir que a sociedade deve ser participativa, inclusiva e socialmente justa. Para essa meta vão apontando as nossas romarias de Canudos.
O lema desta 33ª romaria nos apresenta, nada mais e nada menos, o caminho para chegar o topo da montanha: a sociedade inclusiva, participativa e socialmente justa. Frente àqueles que estão vindo contra nós e armados, nós os enfrentamos com o poder que nos dá a nossa organização, a nossa união, a nossa solidariedade, a nossa fé. Não num Deus que vai fazer milagres para mudar a situação, e sim num Deus que nos anima a abrir caminhos para esse outro mundo que sim é possível.
Por: Padre Tiago Milán (sócio fundador do IPMC)