Nesta quarta-feira, 10 de agosto, aconteceu lançamento oficial na Bahia da publicação Conflitos no Campo – Brasil 2021, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube e redes sociais da CPT-BA, o encontro, que teve início às 14 horas, foi sediado no auditório da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e contou com a presença de representantes da CPT-BA, do grupo de pesquisa de Geografia dos Assentados na Área Rural da UFBA – GeografAR, bem como da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais – AATR.
Na abertura do evento, Clériston Santos (CPT-BA) recitou a poesia “A Rua dos Cataventos”, de Mário Quintana, e na sequência, Marina Rocha (CPT-BA) e Clóvis Araújo (AATR e GeografAR) levaram toda a plateia a cantar “Migrante”, de Zé Vicente. Em seguida, a professora Gilca Garcia de Oliveira, integrante do GeografAR e docente dos programas de pós-graduação em Economia e em Geografia da UFBA, convidou as agentes Roseilda Conceição e Maria Aparecida de Jesus (CPT-BA) e a advogada Aryelle Almeida (AATR) para comporem a mesa.
Roseilda Conceição, representando a coordenação e o setor de documentação da CPT-BA, iniciou a apresentação trazendo dados de 2021 do Brasil relatados no caderno de Conflitos. Ela lembrou que a Comissão Pastoral da Terra realiza o registro desses dados desde 1985 com o propósito de monitorar e denunciar situações de exploração de trabalhadores rurais no Brasil. Os dados e relatos são coletados por agentes da CPT bem como em fontes secundárias e documentos oficiais de todo o país.
No ano de 2021 houveram 1.768 conflitos no campo em todo o país, incluindo os conflitos por terra, por água e trabalhistas. Apurou-se que 897.335 pessoas estiveram envolvidas nestes conflitos, apontando uma média 4,84 ocorrências de conflitos no campo por dia neste último ano. Roseilda lembrou que apesar do número ser alto, ele ainda não representa a totalidade real dos conflitos no país, mas apenas aqueles que foram possíveis haver algum registro. Ela também ressaltou que os números vêm crescendo gradativamente a cada ano, tendo se agravando ainda mais nos últimos 3 anos, apontando que o acirramento desses conflitos foi uma característica marcante do atual governo.
Maria Aparecida trouxe uma amostragem dos conflitos na Bahia em 2021, salientando como esses números são uma expressão da resistência dos povos camponeses e tradicionais. Ela mostrou que no ano passado foram registrados 143 conflitos por terra, água, território e questões trabalhistas no estado, atingindo 15.896 famílias. Esses conflitos são causados principalmente pelo empresariado rural, mineração e o agronegócio, e também pelos governos federal, estadual e municipais, atingindo principalmente comunidades rurais de fundo e fecho de pasto, indígenas, quilombolas e assentados.
Ariele Almeida ilustrou a situação dos conflitos no Brasil afirmando que se a CPT tivesse feito esses registros desde o início da colonização do país, não haveria um ano sequer sem que houvessem registros, pois a história do Brasil é formada por conflitos de terra, água, território e trabalho. Ela também expôs que a alta dos conflitos nos últimos anos tem sido sentida no trabalho da AATR, pois a judicialização desses conflitos também é crescente. É também crescente os conflitos armados, tanto com atuação tanto de pistoleiros quanto de policiais que vêm violentando comunidades a comando de empresários com poder político e econômico.
Após as apresentações da mesa, foi aberto o momento de debate com o público. Carolina Ribeiro, membro do GeografAR, apresentou o Dossiê de Energias Renováveis na Bahia, disponível no link www.dossienergiasrenovaveis.com.br. Em seguida, o advogado Clóvis Araújo, membro da AATR e do GeografAR, lembrou que nesse mesmo site existe um “atlas” com o mapeamento desses empreendimentos no estado. Na sequência, Ruben Siqueira, da CPT-BA, cita a jornalista Eliane Brum, que disse que “no século 21, o Brasil se torna periferia da Amazônia”, e salienta que os dados de conflito no país confirmam essa afirmativa, pois a grande maioria desses conflitos ocorrem na Amazônia. Albetânia Santos, da CPT-BA, lembrou a violência sofrida pela comunidade de fecho de pasto do Destocado, em Santa Maria da Vitória, que teve suas casas invadidas e incendiadas por pistoleiros na madrugada do dia 14 de julho, por conta do conflito de grilagem de terras na região.
A gravação do lançamento está disponível no canal da CPT-BA, no link youtube.com/cptbahia. O caderno Conflitos no Campo, que estava à venda no formato impresso durante o evento, também se encontra disponível para download gratuito em PDF através do site da CPT, no link https://www.cptnacional.org.br/downloads-1/download/41-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/14271-conflitos-no-campo-brasil-2021.