A Missão da Terra da diocese de Bonfim é composta, na sua maioria. por camponeses e camponesas humildes e despossuídos que foram aos pés da Santa Cruz, símbolo de fé, na paróquia Sagrado Coração de Jesus, de Monte Santo, no dia 31 de outubro e 1 de novembro de 1979 pedir forças a veneradas Santa Cruz para enfrentar os grileiros daquela época como também prestar solidariedade aos camponeses da comunidade do Pimentel e Desterro que estavam sendo perseguidos por fazendeiros e poder público daquele município.
A partir daquele memorável dia, a cada ano se efetua uma nova Romaria em lugares diferentes no âmbito da diocese. Com o passar do tempo essas caminhadas e concentrações foram crescendo em número e entusiasmo, com muito sacrifício.
O objetivo principal deste encontro de massa, puxada pela Comissão Pastoral da Terra Bahia – CPT BA, é esclarecer a população a respeito de todos os problemas de terra, água, ambiental, sobretudo os relacionados com a questão agrária.
O Brasil teve a sua descoberta há 500 anos, quando os portugueses chegaram aqui perseguindo, tomando a terra e explorando a nossa riqueza. Desde então, várias vozes se levantaram para que houvesse uma justa distribuição de terra, água, principalmente para os camponeses e camponesas. Isso não aconteceu ainda de modo satisfatório. Pelo contrário, a questão da terra vai se tornando cada vez mais conflitiva com a perda de vidas, com a falta de paz no campo, com grande prejuízo econômico para as famílias e falta de prioridade dos governos Federal e Estadual.
Evidentemente, essa incômoda situação não pode continuar, principalmente em um país de imensas terras improdutivas e exploradas por empresas mineradoras e do agronegócio.
Através da Comissão Pastoral da Terra, fundada em 1979, como apoio de dom Jairo Rui Matos da Silva, bispo da época, começou a fomentar uma serie de atividade, entre as quais a realização de uma romaria que recebeu o nome de “Missão da Terra”.
A participação dessa luta em favor dos pobres camponeses é uma conseqüência da razão, da fé e do sentimento de humildade. Em tempos passados a Igreja Católica já havia chamado, e agora timidamente, a nossa atenção para esse grave problema da posse e uso da terra. Para que tivéssemos presentes através de uma ação eficaz. Apenas para ficarmos com os pronunciamentos dos últimos anos, lembremos a Constituição “Alegria e Esperança”, do Concilio Vaticano II (1962-1965), que adverte que todas as riquezas (latifundiários, mineração, agronegócio, por exemplo) devem ser usadas urgentemente para o bem da comunidade e para que o bem comum não seja posto em perigo.
Em Medellin (Colômbia), em 1968, os bispos latino-americanos afirmaram que não poderia haver uma promoção humana para as populações camponesas, ribeirinhas e indígenas sem “uma autêntica e urgente reforma das estruturas e da política agrária” (1,14).
Se passarmos para as conclusões e Puebla (Mexico 1979) encontraremos as seguintes afirmações entre outras: “Os bens e riquezas do mundo, segundo a vontade do criador, são para servir efetivamente à utilidade e ao proveito de todos e de cada um dos homens e dos povos”. (Puebla 492,4). Em o número de 1245 desse mesmo documento há reprovação severa do papa João Paulo II contra os que “mantém terras improdutivas que escondem o pão que falta a tantas famílias, a voz de Deus, a voz da Igreja “não é justo, não é humano, não é cristão continuar com certas situações claramente injustas”.
Por ocasião da 4ª Conferência do Episcopado Latino-Americano, em Santo Domingo (1992), reprovou a “visão mercantilista que considera a terra em relação exclusiva com exploração e o lucro, que provoca o desalojamento e a expulsão dos seus legítimos donos”, (Nº 172,b).
Foram através dos ensinamentos destes documentos e outros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que a CPT repassou para todos, de modo especial para o homem e a mulher do campo. A semeadura foi certamente difícil e dolorosa, mas já se começa a recolher com o sorriso na face. Como a retomada dos Sindicatos da mão dos doutores, o reconhecimento do Fundo de Pasto e a emissão de milhares de títulos de terra, a consolidação do Movimento dos Trabalhadores Acampados, Assentados e Quilombolas – CETA, do Movimento dos Pequenos Agricultores – MA, a criação da Central de Ocupantes do Semiárido Baiano e a Associação de Assistência Técnica dos Trabalhadores e Movimentos Populares – CACTUS do Grupo de Economia Popular Solidária – GEPIS, entre outros.