Programado para ser realizado essa semana, de 12 a 16 de julho, na cidade de Marabá (PA), o V Congresso Nacional da CPT foi adiado para 2021, devido à pandemia da COVID-19. “Seguimos na luta, rumo ao nosso 5º Congresso Nacional da CPT em 2021, solidários/as às milhares de famílias que estão perdendo seus parentes e amigos, no campo e nas cidades, e às lutadoras e lutadores que, em casa, no trabalho ou nas ruas, conseguem viver hoje o que desejamos de melhor para o mundo, com as bênçãos do Senhor da História”.
Já estava tudo, praticamente, organizado. Várias reuniões realizadas, a programação pronta, as equipes regionais preparavam suas caravanas, escolhiam delegados/as entre camponeses/as e agentes, combinavam levar os frutos da terra – alimentos e sementes que iriam encher nossos olhos de cores, nossas bocas de sabores, nossas trocas de saberes… As equipes de serviços articulando como receber, acolher, comer, dormir, festar, refletir, rezar, enfim, celebrar, nos 45 anos da CPT, nosso 5o Congresso durante cinco dias em Marabá, no Pará. Uma grande movimentação animava os/as agentes de pastoral, num envolvimento grandioso de pessoas e entidades. Os desafios da escolha dos lugares, dos espaços para receber as caravanas e as atividades, e armar toda a infraestrutura necessária são muito grandes. Mas, tudo estava sendo pensado e organizado com tanto comprometimento e paixão pela Causa, que novos caminhos e possibilidades foram surgindo.
Muitas expectativas nos envolviam na realização do 5º Congresso em julho de 2020. O ano de 2019, primeiro sob a extrema-direita de Bolsonaro, foi especialmente violento no campo; a Amazônia, mais a cada dia, cenário de uma guerra perversa contra os povos e a natureza. O desmatamento e o fogo aumentaram, as ameaças continuam aterrorizando famílias e o ar para respirar e viver cada vez mais pesado. O governo federal, com conivência do Congresso Nacional, sob influência da bancada ruralista, declarou guerra de extermínio aos povos da terra, das águas e das florestas. Na tétrica reunião ministerial do dia 22 de maio, foi dito em alto e bom som: “tenho ódio do termo povos indígenas”, [a pandemia é] “oportunidade” para “ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”. Deste governo neo-fascista não se pode esperar nada diferente. Mas, não é nele que depositamos nossas esRumo ao 5º Congresso Nacional da CPT em 2021 peranças. Essas estão nas lutas e resistências de nossos povos e comunidades, que não esmorecem, animadas na fé e na solidariedade, na esperança do Reino da Justiça e da Paz.
Para coroar os horrores de 2019, o mundo foi tomado pela pandemia do novo coronavírus ou Covid-19, um vírus letal que se espalha rapidamente. Em menos de cinco meses, já eliminou mais de 60 mil pessoas no Brasil e mais de 500 mil pessoas no mundo. Nosso país, sob um governo que usa a pandemia como estratégia, já alcançou o segundo lugar em mortes no mundo. Diante do crescimento do número de contagiados e mortos, alguns estudiosos chegam a afirmar que a postura do presidente da república pode ser comparada a uma prática de eugenia (eliminação seletiva da população), por desconsiderar a gravidade da pandemia, tratá-la com uma “gripezinha”, incitar ao desrespeito às normas de cuidado da Organização Mundial de Saúde (OMS), querer impor um remédio (cloroquina) desaprovado nas avaliações médicas. No atual momento, estamos sem ministro da saúde e o militar que assumiu interinamente segue a política do presidente de ampliar o caos. A diminuição das mortes nas classes altas chegou a ser comemorada pelo presidente, enquanto a contaminação cresce nas classes empobrecidas, em razão principal da quebra do isolamento social e retomada precoce das atividades econômicas.
Diante desse cenário – de caos institucional e necessidade absoluta de prosseguir no isolamento social, por mais que a realidade nos convoque ao encontro celebrativo das lutas e Causas do Reino, tivemos que adiar a realização do nosso 5º Congresso Nacional, para a data de 11 a 15 de julho de 2021, no mesmo local, Marabá – PA. No entanto, a realidade está a nos ensinar, mais uma vez, que não é de lamentos que se prepara um congresso de uma entidade como a CPT, mas com muitos tambores e maracás, com muitas cores, sabores e saberes, com muitas sementes… da paixão, das culturas originárias e tradicionais, da agroecologia, da organização, da resistência, da esperança e da coragem… Mas, na hora presente, temos um desafio imenso diante da situação instalada. Muitas comunidades se encontram desamparadas e com crescimento dos casos de contaminação. A realidade entre os povos indígenas é das mais preocupantes. A conjuntura política aliada à quarentena tem agravado o quadro em muitas comunidades, por conta do fechamento ou precarização de órgãos e a violência incessante de grileiros, mineradoras, madeireiros, ruralistas de toda má sorte. Impõe-se o desafio de usar com segurança os instrumentos de comunicação eletrônicos disponíveis, para que alimentemos a resistência e que o isolamento não nos fragilize ainda mais.
Diante disso, vêm a pergunta desafiadora: como podemos manter acesa a lamparina ou a poronga do nosso Congresso nesse período de agora até julho de 2021?
Continuam a nos embalar, ainda mais, o tema do 5º Congresso – Romper as Cercas do Capital na Terra e Territórios Ameaçados e Tecer as Teias do Bem Viver na Casa Comum – e seu lema: Somos Terra, Somos Água, Somos Vida!
Acreditamos que, como momento celebrativo e de profunda reflexão, co-inspiração e compromisso, teremos na realização do Congresso em 2021 ainda mais desejos de uma radical transformação em nosso país e em nossa situação agrária. Diante da total incapacidade desse governo, submisso ao capitalismo ultraliberal e neofascista, de resolver os problemas do povo, nossas comunidades continuarão respondendo com coragem e solidariedade à pandemia do novo Coronavírus e da “agro-pandemia”.
Não podemos perder a hora, o mundo grita, com George Floyd, o negro morto sufocado pelo policial nos Estados Unidos – “não consigo respirar” – que “vidas pretas importam”, que “todas as vidas valem”! Como CPT, continuamos juntos/as aos povos do campo, na peleja pela autonomia e soberania nos territórios. Avante! Seguimos na luta, rumo ao nosso 5º Congresso Nacional da CPT em 2021, solidários/as às milhares de famílias que estão perdendo seus parentes e amigos, no campo e nas cidades, e às lutadoras e lutadores que, em casa, no trabalho ou nas ruas, conseguem viver hoje o que desejamos de melhor para o mundo, com as bênçãos do Senhor da História.
Coordenação Nacional da CPT