Com o tema “Vamos salvar o Velho Chico”, o poder público municipal e entidades populares realizaram na Câmara de Vereadores de Ibotirama (BA), uma sessão pública para discutir as problemáticas emergentes na bacia do rio São Francisco, de modo especial à contaminação com rejeitos minerais trazidas pelas águas do rio Paraopeba em Minas Gerais.
A sessão aconteceu nesta segunda-feira, dia 25, e contou com representantes da Câmara de Vereadores e secretarias municipais da Educação, de Obras e de Finanças, Comissão Pastoral da Terra (CPT), estudantes de escolas municipais, colônia de pescadores e comunidades. O evento teve como mediador Valney Dias Rigonato, Doutor em Geografia pelo Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor adjunto na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).
Rigonato apresentou a importância do cerrado no abastecimento do lençol freático que mantem o Rio são Francisco, e ressaltou que a contaminação das águas do rio devido o rompimento da barragem, não é a única preocupação que a população deve ter. pois a degradação do Velho Chico passa por muitos outros fatores, principalmente a ocupação do cerrado por empresas do agrohidronegócio, pecuária e o “agronegócio da energia”.
“Esse evento nos deixa muito feliz, porque é a possibilidade de iniciarmos um processo em rede de escala local, para nacional e até mesmo internacional da conscientização das pessoas, dos políticos e dos diversos setores da sociedade civil organizada brasileira, em relação à importância que é o cuidado dos bens naturais, sobretudo as águas do rio São Francisco que é um rio de extrema importância para a vida, para a economia e para a biodiversidade brasileira”, completou Valney Rigonato.
Já Téo Coutinho, idealizador da sessão pública, destacou que existe uma falta de respeito do sistema econômico que é perverso e arbitrário. “O rompimento da Barragem de Brumadinho é fruto da ganância de empresários que só pensam no lucro em detrimento da natureza e das pessoas, e a contaminação por mentais pesados, das águas do rio São Francisco, é consequência desse desrespeito pala vida. A sociedade ibotiramense não pode ficar alheia a essa situação”, afirmou.
O objetivo da sessão, conforme Coutinho, era o de “mobilizar a sociedade civil e o poder público para a importância da divulgação de informações sobre os impactos ambientais causados pelo crime cometido pela empresa Vale, na bacia do rio Paraopeba, que também atinge a bacia hidrográfica do Velho Chico, e, as ações pensadas para impedir o avanço da contaminação”.
Para a senhora Taciana Oliveira, representante da Fundação Desenvolvimento Integrado do São Francisco (FUNDIFRAN), o problema a ser enfrentado, vai desde os estudos de impactos ambientais até a nossa forma de lidar com o rio. “Infelizmente o São Francisco é o lugar onde se joga o boi morto, os esgotos etc., o rio virou um lixo, mas é dele que tiramos a nossa sobrevivência, pois, sem a água, não podemos viver”, disse.
Ainda segundo Taciana os próprios órgãos ambientais são responsáveis pela degradação dos rios, dos desmatamentos desordenados e dos crimes ambientais como os que aconteceram em Minas Gerais. “Licenciamentos são liberados sem estudos prévios e aprofundados para garantir a sustentabilidade das espécies”. Ela também criticou o fato de as empresas destruírem o ambiente em determinado lugar, e poder fazer a compensação ambiental em outro local.
No evento também foi criada a rede de comunicação e mobilização “São Francisco salvo”, e aprovada à moção em defesa do Velho Chico.
Texto: Hamilton Luz/CPT Bahia