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CPT BAHIA

Santa Maria da Vitória sedia a 4ª Romaria do Cerrado

Lema da romaria é trecho da música “Xote Correntino”: “Corrente ‘veio’ dá água boa e limpa fazendo o que era seco verdejar”, de Sá e Guarabyra.

Foto: Thomas Bauer/ CPT Bahia.

Romeiros e romeiras de várias cidades do estado da Bahia participaram da 4ª edição da Romaria do Cerrado, que teve como ponto central o “Rio Corrente”, na última sexta-feira, dia 22, em Santa Maria da Vitória (BA). O evento também contou com a presença de austríacos que escolheram esta romaria para realizar uma reportagem em comemoração aos 800 anos da Diocese de Graz, na Áustria.

Sob o tema “Cerrado em pé! Rio Corrente, corrente até quando?”, a romaria fez memória aos 40 anos da morte do advogado Eugênio Lyra, assassinado aos 30 anos pelo pistoleiro Wilson Gusmão, em 22 de setembro de 1977, nesta mesma cidade. Eugênio Lyra dedicou sua vida à defesa dos trabalhadores rurais e dos posseiros ameaçados pela grilagem de terras.

O evento foi dividido em três grandes momentos: a condenação, a morte e a ressurreição, respectivamente. Uma cruz, símbolo desta romaria, construída por Nego do Salto, foi levada durante todo o trajeto, que partiu de São Félix do Coribe e atravessou a ponte em direção à Santa Maria da Vitória.

Foto: Thomas Bauer/ CPT Bahia.

Samuel Brito, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), afirmou que a cruz apareceu de forma espontânea na primeira romaria, em Cocos. “Representa o calvário do Cerrado e do povo geraizeiro. O desmatamento, as queimadas, o assoreamento dos rios, os grandes projetos, a pistolagem, as grilagens, tudo de mal que o povo e o Cerrado enfrentam”, disse. Ainda segundo Brito, esse símbolo também representa a luz e é um sinal para que o povo possa continuar em caminhada e em luta, pela defesa da vida e de tudo o que o Cerrado e seu povo representam.

A segunda parada se deu no local em que Eugênio Lyra foi assassinado, os presentes fizeram um minuto de silêncio, e em seguida, Abeltânia Souza Santos, agente da CPT, fez a leitura de uma reivindicação ao município, para que ali seja construído um monumento em homenagem ao advogado.

Foto: Thomas Bauer/ CPT Bahia.

Para Julita Carvalho, também da CPT, “a romaria é na verdade um grito de socorro do cerrado baiano, onde tem a nascente das águas, do estado e do Brasil”, reforçou. Em 2018, a Romaria do Cerrado acontecerá na cidade de Jaborandi, município vizinho de Santa Maria da Vitória e filiado à Diocese de Bom Jesus da Lapa.

4ª Semana do Cerrado

A Semana teve início no dia 10 de setembro com o envio da cruz geraizeira, na comunidade de Barreiro, em Canápolis . Nesse período aconteceram visitas e reuniões em comunidades rurais, exposição de vídeos em escolas, o IV Festival de Música Raiz na comunidade de Macacos dos Gerais, e a palestra “Realidade do cerrado baiano e os impactos do agro-energias-negócio”, com o professor Valney Dias Rigonato, da Universidade Federal do Oeste Baiano – UFOB.

Para Rigonato, “a natureza é finita, o mito do progresso e do crescimento é limitado, as pessoas perderam a noção de suas vidas. A qualidade de vida aumentou em alguns aspectos, ao mesmo tempo que há gente morrendo cedo”, afirmou em referência as comunidades que estão cercadas pelo agro-energia-negócio e pela grilagem verde: um processo para legitimar a parte legal ambiental, “que destrói tudo, remaneja as reservas e as aloca com escrituras fraudulentas”, concluiu o professor.

Texto: Sandra Leny/ CPT Bahia – Equipe Centro-Oeste

Edição: Comunicação CPT Bahia.

Clique aqui para ver mais fotografias da 4ª Romaria do Cerrado, em Santa Maria da Vitória (BA).

Clique aqui e leia a Carta do Rio Corrente

 

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