Visitas às comunidades de João Barroca, Flores e adjacências fizeram parte da programação desta quarta-feira, dia 02, do mutirão da Comissão Pastoral da Terra – CPT Bahia. Os participantes deram continuidade à discussão sobre a situação política do país e de denúncia ao modelo mineral, que visa se impor na região a partir do projeto Pedra de Ferro da Bahia Mineração – BAMIN, Eurasian Natural Resources Corporation – ENRC, empresa de capital Cazaquistanês.
Durante as discussões, ficou evidente na fala dos/as trabalhadores/as a visão que a política econômica vem piorando cada vez mais a situação do campo. Segundo Ermone Fernandes, da comunidade de João Barroca em Caetité (BA), as condições financeiras do povo já foram melhores. “Antes estava todo mundo empregado, tinha um dinheirinho, agora as coisas ficaram mais caras, como a gasolina que em um dia de serviço, vai boa parte nela”, disse.
Jesulino Pereira, da mesma comunidade, destacou que somente no governo Lula foi possível realizar o sonho da chegada da energia elétrica. “Eu me lembro quando jovem, mais de trinta anos atrás, já vinha essa promessa de colocar energia. De quatro em quatro anos enfincava os tornos nessas estradas e diziam que era para trazer a energia. Nós só fomos ver esses postes e o fim do candeeiro com o nosso presidente”.
Em uma de suas falas, Eci Maria, agente da CPT Bahia, ressaltou que essa injustiça conduzida pelo juiz Sérgio Moro, é porque os grandes do Brasil não gostam de povo e dos trabalhadores, pois o objetivo deles é massacra-los. “Mas a esperança deve ser sempre o povo e seu compromisso com o reino de Deus”, concluiu.
Para Camila Mudrek do Movimento por Soberania Popular na Mineração – MAM, Lula e o PT foram antes de tudo, resultado da organização e luta popular. “É importante que a gente não esqueça, a reforma da previdência quase foi aprovada, somente não foi porque a reação dos trabalhadores, colocaram os deputados na defensiva neste momento, já que isso, queimaria eles nas eleições”. Mudrek ainda afirmou que neste momento o povo deve assumir o protagonismo nessas eleições, construindo nas ruas a defesa da democracia, das eleições e do direito do povo de ter um candidato.
Barragem de rejeito da BAMIN
Outra situação levantada e que aflige a maioria dos trabalhadores da região, é a construção da Barragem de Rejeito da BAMIN. A barragem tem como uma das alternativas, a instalação em uma área que possui dezenas de nascentes que atendem diretamente mais de 600 famílias das comunidades pertencentes aos municípios de Caetité e Pindai.
Segundo Maria das Graças, moradora da comunidade de Novo Horizonte em Pindaí, existem mais de mil pessoas na região que vive da produção de hortaliças, a partir de poços artesianos. “Se construírem essa barragem de onde vamos ter água para produção da hortaliça e outros produtos da roça?’, questionou. Ainda segundo Maria das Graças, essas empresas não trazem desenvolvimento, nem a comunidade deve ter ilusões, “a gente fala aqui, firma [empresa] não brinca. Eles só querem arrancar o minério e a gente ficar no buraco”.
Cleide Bispo, do município de Pindaí e ex- moradora da comunidade de Antas de Palmitos, local onde será implantado o projeto de extração mineral da BAMIN, destacou que esse projeto desde o início representou destruição. “Nós fomos praticamente expulsos da nossa comunidade, do local onde nascemos e nos criamos, e hoje temos que plantar numa terra que não é nossa, e não tem água para produzir, sendo que antes na nossa comunidade não faltava água”, desabafou.
Segundo Gilmar Ferreira, um dos coordenadores regionais da CPT Bahia, a mineração consome 6 mil litros de água para cada tonelada de minério de Ferro, conforme dados da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável – FBDS e ressaltou que isso será muito grave no sertão, que vive cada vez mais com a escassez de chuva. “A empresa pretende explorar 19 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano, multiplicando pela quantidade de água necessário por tonelada, temos um consumo de aproximadamente 114 bilhões de litros de água por ano. Com essa quantidade de água, seria possível abastecer cerca de 7 milhões de cisternas de 16 mil litros para consumo humano e aproximadamente 2 milhões de cisternas de produção com 52 mil litros cada”.
Para Camila Mudrek, este projeto se caracteriza como um projeto de morte das comunidades e por isso apontou a necessidade de articulação e unidade de todas elas enquanto resistência. “Todas as comunidades e os distritos de Brejinhos das Ametistas e Guirapá estão sendo impactadas por este projeto. A única possibilidade de não ocorrer essa barragem de rejeito, é a união e a construção da soberania popular na mineração”, disse.
Equipe de comunicação CPT Bahia – Sul/Sudoeste