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CPT BAHIA

Seminário reuniu cerca de 80 camponeses e camponesas em Monte Santo/BA

Aconteceu entre os dias 9 e 10 de março, o segundo seminário de trabalhadores/as do campo promovido pela CPT/BA, Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais na Bahia (AATR) e movimentos e organizações sociais da diocese de Bonfim. Com o título, “Espaço: Dialogo da Terra”, o evento teve como objetivo refletir a questão agrária, reanimar e fortalecer a organização conjunta dos trabalhadores/as da região de Monte Santo, como também lutar contra a inércia dos poderes do Estado, frente aos atos de violência e violações aos direitos humanos dos trabalhadores.

Cerca de 80 trabalhadores da região de Monte Santo refletiram sobre a questão agrária
Cerca de 80 trabalhadores da região de Monte Santo refletiram sobre a questão agrária

O seminário teve inicio com a mística e acolhida dos participantes, organizada pelos movimentos sociais. Em seguida, Antonio Celio da CPT fez uma memória da retomada do trabalho de animação dos camponeses(as) do município de Monte Santo, como também dos encaminhamentos do primeiro seminário realizado nos dias 30 e 31 de agosto de 2014, em Senhor do Bonfim.

Outro momento importante foi a partilha das experiências de luta e dos desafios que cada movimento vêm enfrentando hoje para defender e garantir o seu território, diante do atual modelo econômico. O professor Adriano de Oliveira Lima, do Geografar, trouxe dados da sua dissertação, baseada em pesquisas feitas nos assentamentos Sitio do Meio e Cassatiga, no município de Itiúba (BA).

Adriano defendeu uma maior aproximação da universidade com a luta dos camponeses pela terra, até mesmo para dar visibilidade a esses conflitos. Para o professor, o entendimento da questão agrária no campo é um ponto que ainda precisa ser discutido em conjunto com os camponeses. “A reforma agrária não pode ser pensada apenas como acesso à terra. É preciso discutir formas de sustentabilidade”, defende. Ele criticou também as políticas públicas que são disponibilizadas para o campo. Na região de Monte Santo, a terra está concentrada nas mãos de apenas 5% das pessoas. “Viver no campo é ter acesso a terra e garantir meios de sustentabilidade”, defende.

Logo depois da fala dos movimentos, Mauricio Correa, membro da AATR, fez a análise da conjuntura política e econômica que o mundo está vivendo; e reafirmou que esta é uma crise estrutural e que foi criada pelo próprio modelo capitalista. “A partir do momento que os países ricos perceberam que estão perdendo essa bonança e conseqüentemente começaram a retrair esse lucro, surgiu uma batalha para compensar esse ciclo de crise e os recursos naturais têm sido o principal alvo”. Para Correa, esses recursos já apontam para o fim desse modelo econômico. “Por não suportar essa exploração por um período tão longo, já estamos vivenciando no dia a dia diversos conflitos por água no planeta”, reflete.

Maurício Correa diz que as comunidades hoje enfrentam a luta para defender a sua terra dos grandes projetos
Maurício Correa diz que as comunidades hoje enfrentam a luta para defender a sua terra dos grandes projetos

Correa aponta também que os trabalhadores/as trazem hoje uma preocupação a mais, já que antes a ameaça direta nas comunidades eram os grileiros e hoje, além dos grileiros, as comunidades tradicionais vêm enfrentando a luta para defender a sua terra frente às ameaças dos grandes projetos, que chegam a todo vapor, com discurso de trazer progresso. “Na verdade, essas empresas querem as terras livres para serem exploradas e tudo isso com o aval do Estado, que concede todo o processo de licenciamento para estes projetos”, critica Correa.

“Dentre esses desafios há uma necessidade de trabalhar com a perspectiva de garantir a permanência do camponês no campo, produzindo com qualidade e tendo acesso às políticas públicas que venham efetivar essas possibilidades de sustentabilidade na terra”, concluiu Maurício Correa.

Na parte da tarde, houve o momento da fila do povo. Os(as) trabalhadores(as) usaram o “Espaço da terra” para expressar a sua indignação contra a morosidade dos órgãos do governo, frente aos crimes impunes em Monte Santo, como também do processo de regularização das suas terras.
No dia seguinte (10 de março), os(as) trabalhadores(as), juntamente com as entidades presentes, assumiram os seguintes compromissos:

• Fazer trabalho de base com as comunidades: formação e informação;
• Participar de mobilização conjunta no sentido de cobrar ações concretas do Estado;
• Intensificar o processo de mobilização para o Seminário Estadual das Comunidades de Fundo e Fecho de Pasto em Correntina;
• Formalizar denúncia do processo de grilagem de terra na região;
• Encaminhar uma carta para a Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA), cobrando o relatório dos primeiros resultados do processo de Varredura do município, juntamente com a apresentação dos dados em Monte Santo.
• Realizar anualmente um seminário como forma de manter esse processo de articulação e animação do grupo – “diálogo da terra”.

Na avalição, os trabalhadores(as) disseram que o “Espaço: Dialogo da Terra” foi um momento rico de reflexão sobre a conjuntura agrária que o país está passando e consequentemente, as comunidades de Monte Santo e região. Para todos os presentes, ficou evidente a necessidade de manter esse grupo articulado e atento na defesa do seu território para assim garantir o seu modo de vida.

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