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CPT BAHIA

Trabalho de Base e Diversidade Camponesa: Curso promovido pela CPT-BA em parceria com a UNIVASF destaca espiritualidade, lutas e resistências no campo

Nos dias 19, 20 e 21 de novembro, a Comissão Pastoral da Terra na Bahia (CPT-BA) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) – Juazeiro (BA), promoveram a apresentação dos trabalhos finais do curso de formação regional Trabalho de Base e Diversidade Camponesa (2023), construído em parceria pelas instituições. A atividade foi realizada integralmente de forma remota e reuniu cerca de 30 pessoas, entre agentes pastorais e parceiros/as de diversas regiões do estado.

Essa é a formação realizada pela CPT em parceria com a UNIVASF. A primeira ocorreu em 2018, com um curso que reuniu agentes da Pastoral de toda a região Nordeste, consolidando uma colaboração voltada para o fortalecimento das lutas camponesas e da educação popular.

Dividido em três sessões temáticas, o encontro contou com 12 trabalhos apresentados e destacou a pluralidade de histórias, conhecimentos e lutas camponesas, estimulando reflexões sobre resistência, trabalho de base e riqueza cultural dos povos do campo, das florestas e das águas. Além disso, o momento foi muito importante para discussão das complexidades da questão agrária baiana.

Sessão 1: O clamor que vem dos campos e florestas – mística, história e romarias

O espaço se iniciou com uma reflexão sobre a espiritualidade e a conexão com a terra, com destaque para as romarias e práticas místicas que alimentam as lutas camponesas. Participantes relataram como a história de resistência das comunidades está profundamente entrelaçada com a vivência da fé e da ancestralidade, apresentando trabalhos que resgatam memórias e celebrações coletivas.

A agente Adeane Campos, da sub-regional centro-oeste, cuja pesquisa tem o tema “O Fazer da Mística nos Espaços da CPT: Quando o Sentir tem Propósito e Memória Viva”, pontuou que “pesquisar sobre algo que a CPT faz há décadas, como a mística, com um olhar crítico e de estranhamento, é realmente um desafio. Entretanto, os tempos mudam, e o movimento de questionar e rever nossa espiritualidade enquanto ação social e mística viva será uma tarefa que abraço com esse trabalho de pesquisa.”

Sessão 2: Educação popular – contextualização de conhecimentos e trabalho de base

No segundo dia, o foco foi a educação popular como ferramenta de transformação social. Os trabalhos apresentados abordaram metodologias que fortalecem o trabalho de base, mostrando como o compartilhamento de saberes locais promove autonomia e protagonismo. Convidados comentaram a importância de contextualizar os conteúdos educativos à realidade das comunidades camponesas, valorizando seus modos de vida e saberes ancestrais.

Durante a apresentação do seu projeto, que tem como tema “O Papel da Teoria Marxista-Leninista para o Trabalho de Base: Estudo de Caso com as Comunidades de Caetité”, o agente Beni Carvalho, da sub-regional sul-sudoeste, afirmou que “o projeto visa contribuir na atualização sobre a dinâmica de classes no campo atualmente, compreendendo a sua natureza, seus conflitos e como se articulam esses interesses na relação com o desenvolvimento do capitalismo no campo”.

Edione Mercês, da congregação Irmãs Catequistas Franciscanas, apresentou o trabalho “Práticas educativas para a popularização da Carta Encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da Casa Comum nas comunidades acompanhadas por agentes da Comissão Pastoral da Terra-BA”. O objetivo é contribuir para a construção de práticas educativas que resultem em alternativas metodológicas acessíveis para a popularização da Laudato Si’, promovendo o cuidado com a Casa Comum nas comunidades atendidas pelo trabalho de base dos agentes da CPT. Para ela, “a importância de fazer a Laudato Si’ dialogar com os saberes das comunidades está na necessidade de a CPT ser uma presença que fortaleça as autonomias dessas comunidades, fomentando a luta por direitos e justiça socioambiental, além de atuar como uma presença solidária e esperançosa”.

Sessão 3: A multiplicidade das resistências – mulheres, plantas, ancestralidade e comunidades tradicionais

Encerrando o espaço de apresentações, a última sessão destacou a diversidade das resistências camponesas, com um olhar especial para o papel das mulheres, a preservação da biodiversidade e a valorização das comunidades tradicionais. Foram apresentados trabalhos que ressaltam as práticas agroecológicas, o uso das plantas medicinais e a luta das mulheres enquanto lideranças nos territórios.

Comentários, reflexões e desdobramentos

Cada sessão contou com a participação de convidados que, além de comentar os trabalhos apresentados, indicando leituras, sugerindo enfoques e adaptações nas metodologias, contribuíram com reflexões sobre os desafios e as estratégias de fortalecimento das comunidades camponesas. Foi ressaltada a importância de que os agentes consigam concluir seus trabalhos e a necessidade de um debate sobre como canalizar tanta ciência popular produzida por quem acompanha de perto os conflitos e questões colocadas. O ambiente remoto não impediu a troca calorosa de experiências e ideias, criando um espaço dinâmico e colaborativo. 

Clériston Oliveira, agente da sub-regional centro–norte, sintetizou o sentimento geral: “parabéns a cada um e a cada uma pelo trabalho apresentado, muito ricas as nossas experiências”. Além disso, agradeceu à Coordenação da formação pelo esforço e a Adalton José, professor da UNIVASF, pela sua atenção e colaboração.

O curso de formação regional da CPT-BA reafirmou o compromisso com a luta por direitos, dignidade e sustentabilidade no campo, fortalecendo o trabalho de base e celebrando a diversidade camponesa como força transformadora.

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