O alcance de meus conhecimentos e diagnósticos sobre a conjuntura brasileira, apesar do esforço de me informar e aprofundar, fica quase sempre só no primeiro degrau que é o das impressões. Uma delas é a seguinte.
Representa uma novidade, no atual momento, o fato de que, apareceu no principal blog da esquerda, gerenciado pelo Partido dos Trabalhadores – PT, o Brasil 247, o texto “O papa Francisco e os golpes” do autor Robson Souza. Parece-me que nesta hora de “não poder”, o PT e as esquerdas se esforçam para superar certa dose de preconceito, em relação aos setores chamados igrejeiros, termo este, nem sempre cordial e pluralista em sua ironia benfazeja que poderia ser benfazeja para todos.
Hoje, os setores igrejeiros, nos quais me incluo, como seguidores da teologia e da espiritualidade da libertação, estão “se contando” com certa preocupação na quantidade e na qualidade. Aos estímulos evangelicamente proféticos de papa Francisco não são muitos os que se levantam, com presteza e entusiasmo, para serem “igreja em saída” concretamente; com o investimento de pessoas e meios, na retomada da inserção nas bases, dialogando com os setores populares, violentamente obrigados a retroceder, ou jamais alcançar, a marcha de conquista de direitos fundamentais, sempre negados.
Mesmo que não o expressem explicitamente, assistimos ao fato que, tanto do lado dos setores progressistas das esquerdas, como do lado majoritário dos setores das igrejas com seus cleros e instituições de vários tipos, não podem mais se esconder de papa Francisco com indiferença, preconceito ou receio de perder “não sei o que”. Francisco expressa algo forte e representativo pela capacidade de discernimento ético e pela fidelidade a uma postura que se confronta com o evangelho para propor perspectivas de ação, em cima de denúncias, entre as quais: as contras, as guerras e as ecológicas, em que os que tem cabeça e coração sadios não podem não concordar.
Neste clima, no meio onde a gente milita há quase 40 anos, junto à Comissão Pastoral da Terra – CPT, com outros companheiros e companheiras, estamos nos articulando “nas pastorais do campo” e nas outras pastorais chamadas “sociais”. De muitas partes nos vem a demanda de retomar, com vigor, o trabalho de base, na dimensão da fé e da política. Para utilizar um linguajar mais afinado, lembro uma a expressão deste momento, apontada há tempos, e que, agora, no Brasil de hoje, nos exige uma “saída concreta já”.
Tenho na minha frente um caderno impresso, pequeno de tamanho mas denso de conteúdo, que um nosso companheiro e irmão teólogo (Francisco de Aquino Junior do Ceará) nos brindou. Com o título dele, formulo um convite: “A teologalidade das resistências e lutas populares”, nos exigem uma resposta concreta e histórica, como foram e são, as respostas da Bíblia que sempre consideramos como Palavra de Deus, válidas para hoje.
Recentemente, um grupo de pastorais sociais e das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs da Bahia, participamos, em Fortaleza (CE), de mais um encontro organizado pelo Movimento Nacional Fé e Política que assumiu se dedicar, por esta mesma motivação, nesta frente ainda por demais descoberta, se é verdade que o Movimento Fé e Política está se preparando para celebrar sua idade da maturidade: 30 anos em 2019.
Nas pastorais do campo, e a CPT nelas, já lançamos a proposta de organizarmos, por meio de nossos agentes e de qualquer outras pessoas interessadas ao assunto, encontros com núcleos de pessoas, grupos, comunidades, paróquias, dioceses…. Ecumenicamente e com possibilidade de estarmos abertos a grupos externos da sociedade civil e das congregações religiosas masculinas e femininas (colégios, universidades…), não explicitamente ligados a igrejas e a instituições religiosas, para contribuirmos no reerguimento consciente de nossos sonhos tão abalados nestes últimos anos.
Reitero que, na CPT Bahia e em outros âmbitos, eu e outros estaremos disponíveis, na medida de nossas condições físicas, para acompanhar e assessorar, trabalhando em equipes com animadores e animadoras de grupos locais.
A característica e o objetivo comum deste trabalho, a médio e longo prazo, pode ser sintetizado como o que afirma, em entrevista, o autor da matéria publicada no Brasil 247, Robson Souza, queremos recolocar em voga: “a vontade que cultivamos dentro de nós de tornar o Brasil um lugar para todas e todos”. No processo de uma fé que se faz acolhida, aprofundamento e diálogo. A partir do estrutural e do essencial para o ser humano. Aguardamos comentários, propostas e sugestões e desejamos, sobretudo, ações neste sentido.
Luciano Bernardi/ Comissão Pastoral da Terra – CPT Bahia.