Acesse o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2023

CPT BAHIA

Educação contextualizada no campo e os impactos de suas políticas públicas são debatidos por Jovens do Curso de Formação de Lideranças Populares (Liderar)

Encontro Virtual

No último sábado (22), a CPT BA Centro-Norte/Diocese de Bonfim, em parceria com o Lar Santa Maria e a Escola Família Agrícola (EFAI), de Itiúba-BA, realizaram o terceiro encontro virtual do Curso de Formação de Lideranças Populares – Liderar, com a presença de mais de dezesseis jovens oriundos das comunidades rurais de Itiúba, Cansanção e Nordestina. Com objetivo de debater sobre o Estado e as políticas públicas de educação no campo, tendo as assessorias da coordenadora da educação do campo na Secretaria do Estado da Bahia Poliana Reis e Tiago Pereira da Costa que é da comissão de juventude do CETA – Movimento dos(as) Trabalhadores(as) Assentados(as) e Acampados(as). O encontro foi coordenado por Ariane Silva e Silvonei Nascimento, jovens integrantes do Lar Santa Maria.

Foi enfatizado por Poliana Reis a importância de se respeitar a condição dos jovens do campo como sujeitos de direito, com suas autonomias, identidades e formas de viver. Considerando que esses direitos são conquistas a partir dos seus antecessores, que lutaram por uma educação pensada para o povo do campo, com leis que a protege. Assim, as políticas públicas devem abranger a diversidade do campo, com seus assentamentos e comunidades quilombolas, indígenas e outras. Neste sentido é necessário à escuta dos estudantes, professores, gestores escolares, lideranças comunitárias e pais, para que o governo entenda suas reivindicações e possa agir de acordo com a realidade local. A modalidade: Educação do Campo deve ir além da sala de aula, valorizando a cultura, a história e o jeito de viver da comunidade, governo e sociedade. Deve se construído junto uma política de educação de qualidade, pois todos têm o papel e o dever de lutar por isso. Poliana Reis ressaltou “há uma dívida social e histórica deste país com os povos do campo e a educação contextualizada tenta superar isso, mas o desafio é grande. É preciso fortalecer as identidades do campo, e as escolas têm o papel de desconstruir o currículo que traz a lógica da cidade, que desenraiza e não permite que o aluno valorize o seu lugar”. Nesse aspecto a aluna da EFAI, Láiza Brito somou essa posição com uma citação dita por Talita Galhardo “mude de lugar, mas não esqueça suas raízes. Pense diferente, mas não perca seus princípios. É necessário mudar, mas cuide para que o seu “novo eu” seja motivo de orgulho para o seu eu anterior”.

Encontro Virtual

Historicamente as políticas relacionadas à educação, nunca estiveram a favor da classe trabalhadora, principalmente no meio rural, sendo a própria escola a estruturar um pensamento que o campo é espaço de atraso e pobreza, muitas vezes reforçada por profissionais que vem de fora, sem vínculos com a comunidade. Por trás desta mentalidade imposta no processo educativo, está a sociedade do capitalismo, do agronegócio, da concentração de terra e água, pois sabem que quanto menos escolaridade é mais fácil explorar as pessoas.  Esta concepção da educação rural predomina até hoje, muitas vezes com definições governamentais de cima para baixo, desenvolvendo políticas compensatórias e paliativas sempre atreladas ao voto. Para Tiago Pereira seria um grande sonho ter “uma sociedade que valorizasse a agroecologia, a soberania alimentar, as relações sociais de forma igualitária, que considerasse as parcerias e visse na escola um espaço de poder por ser instrumento de produção do saber e das práticas culturais que levam ao bem viver”.

A educação que foi pensada pelos movimentos sociais, apresentada ao estado brasileiro e com muita luta, foi regulamentada como educação no campo. Dando sequência a esta luta, é preciso afirmar e ocupar este espaço social e geográfico da educação, que traz junto outros desafios como: assegurar a permanência na terra, os meios de produção, acesso às políticas públicas de saúde, segurança pública e tantas outras que no campo são mais precárias. E Tiago Pereira defende “é preciso assumir isso, pois não podemos continuar inchando as cidades, temos que nos articular, aderir aos grupos de jovens, associações, cooperativas, para buscar vida digna no campo. O movimento pela agroecologia vem incentivando as comunidades e pressionando o governo para trazer essa dimensão pra dentro da escola, mas é necessário que todos participem, deem suas opiniões, seja na escola, na comunidade, pois se ficarmos calados, outras pessoas decidem os rumos da educação e das outras dimensões do campo”.

Para a integrante do Lar Santa Maria, a Maria Ângela Silva expressou sobre a importância do debate “mostrou que devemos conhecer e reconhecer nossa história para assim vencer o preconceito e discriminação, como também valorizar a agroecologia, mudar as relações de gênero e outras questões sociais que trazem valor ao meio rural e que constroem muitas coisas legais”.

Sabe-se que a educação no campo não se encerra, apesar de ser uma ferramenta poderosa de resistência, não cabe somente a esta, a tarefa de promover condições para diminuir as desigualdades sociais e promover uma sociedade libertadora. A Educação precisa ser articulada com a mobilização popular e a luta para que o Estado seja promotor de políticas públicas em diversos campos dos direitos sociais. Este tema será debatido no próximo encontro do curso como continuidade da Temática: Educação, Estado e Políticas Públicas.

Por: Nildnea Andrade Castro – Equipe Pedagógica do Liderar

Gostou desse conteúdo? Compartilhe