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CPT BAHIA

Cordeiros sedia terceiro Mutirão de Saúde Popular do Sul e Sudoeste da Bahia

(Foto: Kassilene Donato)

No último sábado, dia 09 de julho, o município de Cordeiros (BA) recebeu a terceira edição do Mutirão de Saúde realizado pelo coletivo de terapeutas populares em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) do Sul e Sudoeste da Bahia. Foram 44 moradores atendidos, vindos de diversas comunidades distritais e também da sede, beneficiados com práticas como reiki, auriculoterapia, ventosaterapia e prescrição de florais e fitoterápicos.

Na noite anterior ao mutirão, os terapeutas tiveram a oportunidade de dialogar com gestores e representantes locais para debater sobre a conjuntura da saúde pública no município de Cordeiros. A conversa contou com a presença da professora e coordenadora do Conselho Pastoral Comunitário da sede, Delvita Jardim; da Secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Elisabete Alves; do vice-prefeito Renivaldo Sousa; e do prefeito, Delci Alves Luz. Durante o debate, os terapeutas expuseram que 29 Práticas Integrativas e Complementares em Saúde já são oferecidas gratuitamente em 228 municípios baianos pelo SUS. O prefeito Delci lembrou que o município de Cordeiros está entre as cidades com melhores índices de saúde básica no estado, e firmou o compromisso de levar a demanda da implementação das PICS para o Conselho Municipal de Saúde.

O prefeito Delci dialogou com os terapeutas populares

Além das orientações terapêuticas oferecidas à população, durante o evento também foram ofertadas três oficinas: de Alimentação Saudável; de Comunicação Popular para a Juventude; e de Autocuidado para Mulheres. As atividades foram aplicadas no Centro Paroquial de Cordeiros, no Grupo Escolar Joaquim Gonçalves, no Centro Mariano, e ainda no Salão Comunitário da comunidade de Tapera do Rochedo. O encerramento da programação se deu na manhã do domingo, dia 10 de junho, com plantio de mudas no entorno da barragem do Assentamento Maria Zilda.

Oficina de Alimentação Saudável
Plantio de mudas no Assentamento Maria Zilda

O Mutirão de Saúde faz parte das atividades do Curso de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) promovido pela equipe Sul-Sudoeste da Bahia da Comissão Pastoral da Terra (CPT-SSO-BA) e pela Associação de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (APICS) em parceria com organizações e movimentos populares como o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM); Levante Popular da Juventude; Clube de Mães de Cordeiros; Cáritas; Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE); Misereor; DKA; e Horizonte 3000.

O curso de formação nas PICS vem acontecendo desde o início de 2021, com encontros virtuais e presenciais, e com atividades teóricas e práticas, além dos encontros para realização de mutirões nas localidades de atuação dos estudantes, cuja turma é formada por representantes de comunidades tradicionais e fundo e fecho de pasto, quilombolas, lideranças pastorais e de movimentos sociais, totalizando 20 terapeutas em formação.

O primeiro Mutirão de Saúde resultante do curso aconteceu em março na Vila Juerana, zona norte de Ilhéus, e o segundo aconteceu em maio, nas comunidades de Manoel Vicente e Açoita Cavalo, em Caetité (BA). Todas essas comunidades têm em comum o fato de serem atingidas por empreendimentos capitalistas que invadem os territórios rurais e tradicionais, afetando a reprodução da vida dessas populações, bem como destruindo a biodiversidade e os recursos naturais. O principal empreendimento enfrentado por essas comunidades é a mineração, cuja extração e transporte também afetam a saúde das pessoas que vivem nas proximidades dos empreendimentos, poluindo o solo, as águas e o ar, causando adoecimentos de ordem física e mental.

As PICS

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são sistemas e recursos terapêuticos que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de doenças e da recuperação da saúde por meio da aplicação de técnicas eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. O objetivo do curso é tornar essas práticas acessíveis a pessoas de baixa renda, em situação de vulnerabilidade e de comunidades tradicionais através da formação de terapeutas que façam parte dessas comunidades. Entende-se que é fundamental construir experiências populares de cuidado em saúde que possam tanto acolher os processos de sofrimentos nas comunidades quanto fortalecer a organização política pela reivindicação e construção das políticas públicas de Saúde, tendo em vista que essas práticas possam ser assumidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na prevenção e orientação de uma vida saudável.

Os atendimentos promovidos pelo curso das PICS, que também deverão ocorrer em outros territórios da Bahia, funcionam como estágio coletivo de vivência nas comunidades, fazendo parte dos processos didáticos e pedagógicos do curso, além de também servirem para divulgar essas práticas nas comunidades. Serão aplicadas técnicas como o uso de plantas medicinais em forma de chás, tinturas, xaropes e pomadas, geoterapia, inalação, reiki, florais, auriculoterapia e ventosaterapia. Esses terapeutas em formação se tornarão multiplicadores dessas práticas, promovendo a saúde popular comunitária em seus territórios.

Mutirões de Saúde Popular como o que ocorreu neste fim de semana visam o resgate dos saberes populares, a exemplo do uso medicinal de ervas e raízes, para criar experiências de intervenção em saúde coletiva vinculadas à compreensão de como o contexto político e social afeta as condições de saúde das pessoas. Dessa forma, o desenvolvimento do curso das PICS entre líderes comunitários e representantes de movimentos sociais ligados a territórios em situações de conflito e vulnerabilidade significa uma oportunidade de fortalecimento da luta nas comunidades através da cura e do cuidado físico e emocional das pessoas que estão na linha de frente desses embates.

Essas práticas estão em sintonia com as lutas territoriais, pois discutir práticas integrativas de saúde não é dissociável das lutas sociais, por terra, por água e pelo meio ambiente, pois nesses contextos estão os principais fatores que condicionam a saúde física e mental e a qualidade de vida dessas populações. As PICS têm uma relação direta com a sua implementação nas lutas territoriais visando o fortalecimento das lutas camponesas e da identidade desses povos, pois o enfrentamento a esses conflitos gera diversos tipos de adoecimentos. Nos territórios atingidos pela mineração, são crescentes os casos de pessoas com problemas respiratórios e outros problemas de saúde devido a contaminação da água, do ar e da terra pelo pó de minério.

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