Acesse o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2023

CPT BAHIA

CPT celebra 20 anos na Diocese de Irecê (BA)

Na última terça feira (21), na comunidade de Fundo de Pasto de Cisterna, em Souto Soares (BA), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Diocese de Irecê celebrou 20 anos de presença e atuação naquela região.  Houve à tarde um encontro das comunidades acompanhadas pela CPT e à noitinha uma celebração eucarística de ação de graças. Estiveram presentes, em número equilibrado de homens, mulheres e jovens, camponeses e camponesas de comunidades quilombolas, fundo e fecho de pasto e agentes de pastoral, voluntários e liberados, coordenadores/as, assessores/as, amigos/as, padres, religiosas, missionárias do meio popular e entidades parceiras.  

Foi um dia alegre e emocionante de memórias das lutas e conquistas, com suas próprias dificuldades, que marcaram as vidas de tantas pessoas que de uma forma ou de outra estiveram entrelaçadas nos processos em que a CPT se fez presente. Diferentes experiências como visitas às famílias, reuniões, formações, encontros, mutirões, audiências, intercâmbios possibilitaram o fortalecimento das organizações comunitárias e das lutas em defesa dos direitos à terra, à água, aos territórios, à justiça e dignidade do povo do campo, ameaçados pelos projetos do agronegócio, mineração, irrigação, energia eólica etc. Nisso foi muito importante o apoio das entidades parceiras. Uma extensa exposição fotográfica nas paredes da sala favorecia as recordações das pessoas e situações vividas nestes 20 anos.

Nas falas, os/as participantes destacaram a importância da presença e acompanhamento da CPT nos seus processos de organização e resistências, a participação de jovens e mulheres na superação de preconceitos e discriminações de raça, gênero e geração. Elenita Carmo, da comunidade quilombola Barra II de Morro do Chapéu, afimrou que “a CPT ajudou bastante a nossa comunidade a ter consciência de nossos direitos e fazer o processo de autorreconhecimento e defesa do nosso território”.

Já Evanei Martins, uma das voluntárias da CPT Irecê, destacou a importância dos mutirões da Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo. “Contribuíram para a conscientização de trabalhadores/as relacionada aos seus direitos trabalhistas. Hoje continuam migrando para outros estados, mas não se submetem ao trabalho análogo à escravidão, como é o caso de camponeses/as das comunidades de Canarana que vão trabalhar na colheita da laranja e do café em Minas Gerais”.

Ruben Siqueira, assessor da CPT Regional Bahia, sugere o sentido desta celebração para os povos e comunidades e para a própria CPT: “Celebrar é tornar célebre, inesquecível; fazer memória do que foi vivido porque é decisivo no presente e para o futuro, é a marca da caminhada. Isso só faz sentido para alimentar a continuidade da luta, reafirmar as identidades resgatadas nos territórios re-conquistados e preservados e construir na mesma linha o futuro. Isso é ainda mais importante, hoje, porque com a natureza preservada nos territórios e o modo sustentável de lidar com ela, ajuda de modo decisivo a enfrentar o aquecimento da terra, as crises climática, alimentar, hídrica, pandêmica etc.”. Ir. Evanir Brugali, das Salvatorianas, em Xique-Xique, voluntária da CPT de longa data, conclui: “Este é um apelo com muito amor, de nunca cansar de servir com amor, assim como nos pedem Jesus e o Papa Francisco: continuem na luta!”.

CPT é Evangelho encarnado na luta do povo

Durante a celebração, o padre José Carlos enfatizou a espiritualidade da CPT e de outras pastorais sociais que assumem o Evangelho de Jesus Cristo encarnado na vida do povo, na linha da “Igreja em saída” proposta pelo Papa Francisco. “Ouvir, contemplar e agir, colocar os pés a caminho, ao encontro de quem precisa. Daí que a CPT se tornou a principal referência nos processos de sistematização das lutas dos povos, denúncia e registro dos conflitos no campo no Brasil”, disse o padre José Carlos. Outro aspecto por ele mencionado é a prática do macroecumenismo defendida pela CPT, que corresponde ao respeito às diferentes religiões e religiosidades presentes nas comunidades, que não se tornam obstáculos, mas colaboram para todos/as juntos/as construir unidade e fortalecer a defesa dos direitos socioambientais, cada vez mais ameaçados.

“A CPT vem clarear a nossa luta e nos ajudar a caminhar de mãos dadas para defender o patrimônio que temos; imagina a gente perder a água? A gente faz a defesa das terras porque temos uma riqueza imensa que são as várias nascentes, até hoje desconheço um bem precioso maior que água. É o bem maior que a humanidade tem, sem água não dá pra gente sobreviver. E as nossas serras, os paredões, os animais, a fauna e flora, as pinturas rupestres e cavernas, a gente não quer perder isso, que é um pedaço do céu que temos aqui, é um paraíso. Não queremos perder isso para as empresas, estamos na caminhada lutando para que juntos possamos fazer a defesa deste território e a gente agradece muito a CPT por nos ajudarem nesta caminhada.” – declarou Joaquim Roque, da comunidade fundo de fasto de Cisterna.

A partilha alegre e festiva do lanche diverso e saboroso trazido pelas comunidades encerrou a celebração dos 20 anos da CPT Irecê, que animou a todos e todas à continuidade da caminhada das comunidades e dos agentes pastorais “rumo à Terra Sem Males”.

Texto e fotos: Equipe CPT Centro-Oeste

Gostou desse conteúdo? Compartilhe