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CPT BAHIA

Exploração de urânio em Caetité: o drama enfrentado pela comunidade Gameleira

Por José Beniezio Eduardo de Carvalho da Silva – Agente da CPT Bahia

 

Oficina com a comunidade Gameleira

 

Recentemente a Carta Capital publicou uma matéria com o titulo: ”Três anos depois, a luta contra a radiação de Fukushima” (http://www.cartacapital.com.br/internacional/tres-anos-depois-a-luta-contra-a-radiacao-de-fukushima-5004.html), a matéria descreve o sofrimento que atualmente as famílias de Fukushima vivem, principalmente frente a omissão do Estado. Mas bem próximo de nós podemos notar sofrimentos semelhantes envolvendo a exploração de urânio em Caetité-Ba.

 

Para as famílias que vivem no entorno da Indústria Nuclear Brasileira – INB a tragédia está anunciada há muito tempo. Desde os preparativos da empresa para instalação na região, em meados da década de 90, já que no ano 2000 a empresa iniciou o seu processo de exploração. Segundo os moradores, a organização impôs mudanças bruscas, sendo a principal, o fim do sossego.

 

Para a comunidade de Gameleira pertencente ao distrito de Maniaçu, Caetité-Ba, o momento é bastante triste e cheio de insegurança. Pois, os últimos períodos são para eles momentos de incertezas, frente ao projeto da empresa para abertura de uma nova mina nos quintais das suas casas. Embora nos bastidores este seja o planejamento, em nenhum momento houve conversa para esclarecimento com a coletividade da comunidade, pelo contrário, assim como prática histórica da empresa na região, o que sobressai é sua forma sorrateira e silenciosa de agir com a população.

 

Para obter os territórios que serão diretamente utilizados pela empresa para abertura da mina, a INB faz conversas individuais com os proprietários dos terrenos com a pretensão de adquirir as propriedades estratégicas e assim, dividir a comunidade e “encurralar” os outros moradores para vender a qualquer custo os seus territórios.

 

Como se não bastasse o sofrimento das famílias nestes 14 anos de funcionamento da empresa, em que a comunidade da Gameleira, localizada mais próxima à mina, tendo suas casas rachadas, poeira, barulho, doenças e diversos transtornos psicológicos decorrentes da atividade da INB, as famílias se vêm obrigadas neste momento a serem enxotadas das suas terras de origem. A ambição injustificável socialmente, ambientalmente e economicamente, segue mantendo a sua orientação ditatorial herdada de um período nebuloso que foi o governo militar, através da construção de sofrimentos e violações, visível no desabafo de um dos seus moradores quando, assim diz: “nós estamos sendo enterrados vivo!”.

 

Além do sofrido e comovente momento vivenciado pelas famílias, percebe-se a angustia continua provocada por este projeto de morte. Sendo que os exemplos trágico de Fukushima, o acidente de Goiânia e tanto outros que custaram e ainda custam inúmeras vidas ainda são incapazes de sensibilizar os representantes do Estado brasileiro sobre a inviabilidade deste projeto, que traz apenas medo e insegurança.

 

Frente a esta situação bastante desfavorável, a sociedade brasileira deve-se apegar ao exemplo das famílias de Gameleira, que frente à movimentação da INB apostaram na união para a construção de enfrentamentos contra a forma irresponsável e antiética da empresa. No mesmo sentido o povo brasileiro deve dizer: “Fukushima nunca mais”! E enfrentar este projeto de morte baseado na exploração de urânio de forma irresponsável e desmedida que tem como objetivo não o atendimento as necessidades básicas da sociedade brasileira, como por exemplo, no uso medicinal, mas atender os desejos e necessidades do mercado.

 

 

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