“Útil pra gente é o solo e as mineradoras deixam esse solo degradado, aí não vamos mais ter condições de criar o bode, o cabrito”. A fala é de Josefa Alves, presidente da Associação de Fundo de Pasto do Salgado, em Curaçá-BA, e expressa a preocupação de comunidades tradicionais do semiárido baiano em relação à mineração. Territórios camponeses, a exemplo de fundos e fechos de pasto e quilombolas, estão cada vez mais ameaçados pela exploração mineral, indústria que cresce vertiginosamente no Brasil.
Problemas de saúde, desmatamento, rachaduras em casas, invasão cultural, militarização e esgotamento de bens naturais, como nascentes de rios, são alguns dos impactos socioambientais sofridos por quem vive próximo a mineradoras e que foram relatados durante o “Seminário de Impactados/as e Ameaçados/as pela Mineração”. O evento, organização pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) Centro-Norte, aconteceu nos dias 19 e 20 de setembro, em Senhor do Bonfim, e reuniu agricultores/as familiares, lideranças comunitárias e sindicais, estudantes e professores/as.
Um dos pontos mais discutidos no Seminário foi a importância da população se apropriar do direito de debater os projetos de mineração no país. “É necessário que a sociedade entenda que nós somos um país minerado e deveríamos mudar o modelo de desenvolvimento dos grandes projetos minerários”, ressalta Charles Trocate, integrante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), que assessorou o evento. “Lutar por territórios livres de mineração, por consultas prévias que avaliem se as comunidades e/ou cidades querem ser mineradas… Enfim, um conjunto de questões que possibilitem a formação de um pensamento crítico em relação à mineração”, complementa Trocate.
Durante o Seminário, os/as participantes socializaram os principais conflitos relacionados à mineração em seus territórios e compartilharam experiências de resistências aos impactos desses projetos. Agentes da CPT Centro-Norte e representantes do MAM apresentaram mapas da mineração na Bahia, com foco nas regiões das Dioceses de Senhor do Bonfim, Juazeiro e Ruy Barbosa. A formação de uma articulação regional, assim como a mobilização nas comunidades, universidades e meios de comunicação, foram apontadas no Seminário como ações para o fortalecimento da soberania popular na mineração na região.
Texto e fotos: Comunicação CPT Juazeiro.