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CPT BAHIA

A 35ª Romaria de Canudos como ferramenta de mudança

A visita a Canudos foi muito boa e nos proporcionou vários momentos importantes. Foi a primeira vez que participei de uma romaria e essa experiência foi bem legal. Desde o convite para a participação, até o dia da viagem, somos invadidos de expectativas, essas que muitas vezes são desmontadas e o que realmente acontece vem a nos surpreender, mas nesse caso positivamente.

Visitar uma outra cidade, ainda mais uma que carrega uma grande história, se torna um momento espetacular, pois ainda na viagem temos a oportunidade de conhecer outras pessoas de outros lugares/ comunidades que acabam fazendo parte desse momento especial. Apesar da relação entre as pessoas não ter sido tão intrínseca, acredito que isso se deu pelo local onde ficamos, como a maior parte do tempo estávamos em atividade, quando voltávamos para o lugar de hospedagem nos separávamos, porém, mesmo assim conseguimos criar laços com algumas pessoas. Esses momentos nos trazem a oportunidade de conviver com pessoas que tem opiniões diferentes e nos reforça a ideia de respeito que temos que ter por cada um.

Ao chegar na cidade de Canudos, logo na primeira atividade que foi a de recepção para o nosso grupo, acabamos nos sentindo bem e acolhidos, foi uma sensação boa que acabou nos acolhendo de uma maneira inexplicável. Nesse momento foi apresentado algumas pessoas para compor a mesa, sendo que cada uma delas representavam um “seguimento de religião” diferente, e a partir das falas dos representantes ficávamos impressionados, a fala deles acabava nos despertando um sentimento inexplicável, eram falas que traziam tantas verdades, tanto acolhimento. Eles conversavam e se tratavam de uma maneira “normal” (pelo menos é como devia ser na realidade), que para gente parece até ser surreal, acredito que esse estranhamento decorre do fato de não estarmos acostumados com o respeito e a interação entre as religiões serem práticas atuantes, pelo menos nas nossas realidades. A fala deles sobre respeito e contra a intolerância ou qualquer tipo de preconceito é a mesma que pensamos e que sentimos que a sociedade precisa praticar, mas a maneira que eles falavam era tão natural, tão espontânea e que ao mesmo tempo que essas energias e falas nos invadiam e nos traziam uma sensação boa e de paz, acabava nos levando a pensar que era tão correto que chegava a ser surreal.

Conhecer a história de uma comunidade e visitar os lugares onde tudo aconteceu nos trouxe uma grande experiência, pois nada se compara com o estar presente, com o sentir de fato a história, olhar os arredores do lugar e conhecer as visões de várias pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer o outro lado da história. Conhecer ambas as partes, as controvérsias dos fatos, é importante, pois dessa maneira conseguimos enxergar muitas outras questões que estão envolvidas na história, e que muitas vezes nos são omitidas ou que simplesmente nem chega a nós.

A plenária com a juventude a qual sucedeu as discussões das mesas redondas foi um momento muito importante, onde foi proporcionado a interação entre pessoas de localidades diferentes, e mesmo que de forma mais superficial (por causa do tempo) podemos entender e até conhecer novas realidades, que agrega ainda mais a nossa vida e contribui para a nossa formação como pessoa, já que faz parte da construção de novas experiências.

Em suma, a experiencia foi maravilhosa, apesar do tempo corrido acho que cada um de nós pudemos carregar consigo experiências novas.

O que conseguimos observar e que sem dúvida nenhuma carregaremos para nós, além do vasto conhecimento, a história de uma pessoa que se doou por uma causa nobre, uma sociedade que demostrou resistência e resiliência, uma esperança e um exemplo de luta, das quais nos encoraja a não desistir. O sentimento de que muitos precisam ouvir e viver essa experiência para despertar no seu interior essa sensação de que lutar pelos seus direitos e ideais é muito nobre. Resistir em si é um gesto nobre, desistir não é uma opção.

Precisamos ter consciência da nossa classe e lutar em favor dela e não contra, percebemos que a sociedade só evoluirá quando perceberem o seu real papel e isso tá difícil, pois na maioria das vezes só dão valor aqueles que querem se aproveitar.

Observar que o povo participante tinha uma consciência de classe foi importante, pois nos traz a esperança que o nosso país não está de todo perdido. Acredito que se tivesse tido uma maior interação entre os grupos que representavam a juventude poderia ter validado ainda mais esses momentos, pois as interações poderiam ter sido mais profundas, mais amplas.

Por: Dailaine da Mota, Acampamento Sol Nascente, Diocese de Bonfim – BA

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