Sou casa vazia.
Reverbero meu oco no eco do corredor
e cada parede faz reverência às minhas exclamações.
A ausência acompanha aranhas em seus teares
e já não circulam ares
se as janelas já não se abrem aos solares dias.
Também não há mais banhos lunares na varanda
ou cantarolares no chuveiro.
Cada degrau se emudeceu das correrias de meninice
e não reconheceria mais
os calcanhares rachados que tais meninos agora têm.
Veem só poeira e pó.
Mas há uma luz.
A telha quebrada convida
um feixe de amanhecer a varrer o vazio da sala.
A madeira do chão se espreguiça e estala
e novas colônias de bolores e não-amores se alojam em silêncio,
goteira após goteira,
aguardando que venha abaixo
algum último grito de existência concreta.
Sou existência de concreto, madeira e gesso:
Casa vazia,
sou memória e também sou recomeço.
Haísa Lima
Comunicadora social, linguista, pesquisadora e professora. É militante ecossocialista, antirracista, antiespecista, feminista e LGBTQ+.