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CPT BAHIA

As experiências dos grupos e coletivos de mulheres na região da Diocese de Bonfim

Gostaria de partilhar um pouco do meu olhar sobre os grupos de mulheres e coletivos acompanhados pela CPT, especificamente, no território da Diocese de Bonfim – BA. E expressar a minha gratidão pela oportunidade de tantas vivências que têm nos proporcionado mergulhar sobre diversas realidades enfrentadas por nós mulheres, histórias individuais e coletivas, muitas silenciadas no universo do machismo, mas que, aos nos juntarmos, vamos curando feridas, ressignificando processos, forjando-nos novas mulheres e costurando os retalhos das histórias numa grande colcha de transformação social.   

Encontro do Grupo Mulheres da comunidade de fundo de pasto de Umbiguda, Mirangaba. Foto: CPT Bonfim.

Além de ações pontuais e mobilizações, de forma sistemática, a CPT tem prestado assessoria e apoio a grupos de pequenas agricultoras, de comunidades de fundo e fecho de pasto, quilombolas, acampadas e assentadas da Reforma Agrária, nos municípios de Senhor do Bonfim, Mirangaba, Jacobina, Ourolândia e iniciando um processo em Itiúba.  

Entre os principais resultados deste trabalho, está o fortalecimento da organização e das autonomias por meio do incentivo aos projetos produtivos, aumento da autoestima, do autoconhecimento, do pertencimento aos territórios, com engajamento e protagonismo em ações diretas de proteção e defesa, além da visibilização das dores e das pautas reivindicativas específicas das mulheres. Têm sido espaços importantes para o fortalecimento dos laços de solidariedade entre nós, das redes de apoio e de incidência política, na contramão da sociedade patriarcal que, insiste em criar mecanismos de incentivo à rivalidade e à divisão não só das mulheres, mas de toda a classe trabalhadora, enquanto estratégia para a manutenção dos privilégios dos homens, sobretudo brancos e das elites.

Encontro do Grupo Mulheres da comunidade de fundo de pasto de Riacho, Mirangaba. Foto: CPT Bonfim.

Para nós (militantes, feministas, agentes sociais, mulheres, mães, filhas, irmãs, amigas, companheiras), que assessoramos os grupos, o lugar de escuta e de fala, quase nunca é confortável, porque, desde as nossas ancestrais, somos todas cortadas pela navalha das violências, das desigualdades e da injustiça. Por isso, ao mesmo tempo em que representamos uma entidade de apoio, somos apoiadas, impulsionadas a continuar buscando os caminhos para uma mudança cultural nas relações interpessoais, sociais e de poder reproduzidas até mesmo nas instituições dos campos mais progressistas da sociedade. 

Neste sentido, as lutas por uma sociedade onde as mulheres sejam consideradas em suas falas, tratadas com total respeito, tenham suas vidas, direitos e dignidade garantidos, a partir da ruptura com as contradições presentes no dia-a-dia e a superação da violência estrutural machista, impulsionam as ações dos coletivos e vão acendendo a chama da esperança de uma sociedade onde todas e todos possamos viver com plenitude. 

Encontro do Grupo Mulheres Nascentes da Varzinha, Sr. Do Bonfim. Foto: CPT Bonfim.

Autora: Maria Aparecida de Jesus Silva. Mulher negra. Agente da Comissão Pastoral da Terra. Bacharel em Teologia, Pedagoga, Especialista em Desenvolvimento e Relações Sociais no Campo.

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