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CPT BAHIA

Carta do Encontro de Mulheres Camponesas do Território da Diocese de Bonfim (BA)

Nós, camponesas, indígenas, negras, quilombolas, participantes do Encontro de Mulheres Camponesas do Território da Diocese de Bonfim, realizado em Senhor do Bonfim-BA, no dia 03 de agosto de 2022, no Centro Diocesano de Pastoral, com o tema: “Mulheres camponesas tecendo resistências”, vindas de diversos municípios deste território (Quixabeira, Filadélfia, Ponto Novo, Monte Santo, Itiúba, Nordestina, Senhor do Bonfim, Mirangaba, Ourolândia, Jacobina, Saúde), representantes de comunidades rurais, grupos, entidades, organizações e movimentos sociais, com nossas vozes, territórios e corpos unidos contra os projetos de morte e na defesa da vida, dirigimo-nos a toda sociedade, órgãos e poderes públicos, através dessa carta coletiva. Queremos denunciar as condições de violência, abandono e invisibilidade a que as mulheres, sobretudo as camponesas, estão expostas cotidianamente, sem acesso a atendimento especializado, com pouco ou nenhum acesso às importantes políticas públicas conquistadas com as lutas e reivindicações dos direitos das mulheres. Denunciamos os retrocessos da política de morte e de reconcentração das terras, implementada no país, todas as formas de discriminação e ódio às mulheres, que têm levado ao crescimento dos índices de violências contra nós.

Foto: Maria Angélica

Em 2021, foram 2.451 feminicídios, significa que a cada 7 horas uma mulher foi assassinada no Brasil. Foram 100.398 vítimas de estupro de vulneráveis do gênero feminino. Somos criadas para a felicidade, para o amor e para a liberdade, não podemos aceitar menos que isso. A violência contra as mulheres é uma violação desta natureza e precisa ser veementemente combatida.

Manifestamos a nossa indignação diante da feminização da pobreza e da fome que volta a surgir no Brasil, atualmente são 33 milhões de pessoas passando fome, considerando que são as mulheres e as crianças as populações em situação de maior insegurança alimentar, que totaliza 125 milhões de pessoas no país.

Enquanto isso, os territórios camponeses responsáveis pela produção de mais de 70% dos alimentos que vão para a mesa das brasileiras e brasileiros, estão sob ataques e/ou ameaçados pelo agronegócio e empreendimentos públicos ou privados, cujos impactos socioambientais gerados, atingem a todos/as, mas de forma particular as mulheres, quando impõe a apropriação privada dos bens coletivos, concentram, contaminam e matam as fontes de água, a terra e o ar, privatizando ou impossibilitando também os locais de extrativismo comunitário, gerando prejuízos às economias, degradando as condições de saúde e de segurança nas comunidades, até a expulsão das familiais de seus lugares de produção e de reprodução da vida. 

Ressaltamos que estamos expostas ao uso desenfreado de agrotóxicos e doenças provenientes dessa prática, precisamos cuidar da mãe Terra e cuidar de nós!

Repudiamos o controle patriarcal e diversas outras violações que ferem a dignidade e afetam à saúde integral das mulheres, conforme constatado no diagnóstico de gênero, raça, etnia e geração aplicado nas comunidades rurais deste território (2022).

Reafirmamos o nosso compromisso com a luta pelos direitos das mulheres, a vida, a educação, a saúde, alimentação de qualidade, moradia, segurança, terra, água, condições de produção, trabalho, autonomia e dignidade.

Reafirmamos a importância das rodas de conversas, grupos, coletivos e outros espaços que debatem as problemáticas de gênero, raça, classe, etnia e geração;

Exigimos:

– A efetivação e ampliação das políticas públicas e mecanismos de apoio e proteção às mulheres em todas as faixas etárias (Delegacia da Mulher, casas de acolhimento, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Conselhos municipais da Mulher, efetivação da Lei Estadual 14.452 de 01 de fevereiro de 2022 que trata de uma Campanha de empoderamento das mulheres e enfrentamento ao machismo na rede pública de ensino do Estado da Bahia; políticas públicas para mulheres do campo);

– Justiça diante das violações cometidas contra as mulheres e vulneráveis;

– A criação, efetivação e ampliação de programas de formação e campanhas educativas de combate ao machismo e as violências, voltadas à construção de relações de equidade.

Neste sentido de construir um novo projeto de vida em sociedade, esperançamos nossas lutas com a força, ternura e resistência das mulheres, tecendo novas relações! “Ninguém solta a mão de ninguém”.

Senhor do Bonfim-BA. 03 de agosto de 2022

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