cropped-logo-cpt-1.png
Acesse o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2023

CPT BAHIA

Com diminuição das águas dos rios, ribeirinhos realizam 1ª Caminhada em Defesa do Riacho do Meio em Côcos

“Fio D’água, Riacho e rio,
Corre no meio do mundo. Vão molhar meu sertão…”

Cerca de 200 pessoas, moradoras nas comunidades ribeirinhas do Riacho do Meio realizaram no domingo, 24 de agosto, a 1ª Caminhada de Conscientização Ambiental e em Defesa do Riacho do Meio.

A caminhada foi uma iniciativa das comunidades ribeirinhas e tinha o objetivo de chamar a atenção para a gravidade da diminuição das águas e morte de rios no município, dentre os rios mortos, vários afluentes “nascentes” do Riacho do Meio, chamados comumente pelos ribeirinhos de “galhos d’água”. As causas principais que tem gerado este processo de degradação é a presença do agronegócio nos cerrados, onde estão localizadas as nascentes destes rios.GEDC1442

As comunidades concluíram que se o processo de degradação continuar no ritmo que está, dentro de poucos anos o Riacho do Meio poderá deixar de existir. Então iniciaram um Movimento em Defesa do Riacho do Meio, partindo da reflexão que a ação deverá começar localmente para se expandir “a conscientização precisa começar por cada um de nós. Só temos condições de cobrar dos órgãos e do estado, se tivermos conscientes, organizados e unidos” salienta Inaldo, uma das lideranças do movimento.

O Riacho do Meio é um dos rios do município de Côcos, afluente do Itaguari – micro bacia do rio Carinhanha, que nasce e encerra seu curso dentro do município. Apesar das poucas águas e muito assoreamento, este rio cumpre um papel vital para a biodiversidade do cerrado e para as 300 famílias pertencentes as cinco comunidades (Jacaré, Vereda da Cruz, Samambaia, Tamanduá e Riacho do Meio) que estão localizadas nas suas margens e dos seus afluentes “galhos”. Estas famílias, sempre dependeram exclusivamente das águas destes rios e riachos para viverem e tirarem o sustento de suas famílias, através da agricultura familiar.GEDC1468

A Caminhada

A caminhada foi organizada seguindo o curso do Riacho do Meio com realização de três paradas. A primeira próximo a sua foz, onde foi realizada uma conversa com o Sr. Elias, 85 anos, que deu o seu testemunho de como era o rio em tempos atrás e como o vê atualmente. “Há 70 anos vivo aqui e conheço o Riacho do Meio, antigamente era muita água neste rio, os moradores tinha abundância de água e produziam muito, viviam destas águas. Tem muita diferença de lá para cá, hoje ele está quase seco. A minha contribuição em defesa do rio é está na luta, pois o rio representa a minha famílias, meus filhos, netos e bisnetos. O rio é a minha vida”.

Na segunda parada, o local escolhido foi o Rio Jacaré, este desaguava no Riacho do Meio, mas atualmente é mais um afluente morto. Neste local foi feito uma conversa com Valmir, morador local que testemunhou a realidade deste rio. “eu conheci este rio correndo. Há 40 anos atrás, quando a gente atravessava montado a cavalo, a águas dava na capa da cela. Hoje não existe mais água correndo, só tem um pouquinho lá na cabeceira. A água começou a diminuir há 25 anos e hoje só corre quando chove. O que contribuiu para o rio parar de correr foram as nossas práticas de degradação e principalmente as grandes empresas que estão nas cabeceiras. O estado também é responsável pois dá licença para as empresas usar pivô, abrir poços artesiano e tirar as águas dos nossos rios. Quando cuidamos da gente, temos que zelar do corpo inteiro, dos pés até a cabeça. Com o rio também é assim, temos que cuidar não só das cabeceiras, mas do corpo inteiro do rio”.GEDC1485

A terceira e última parada foi na comunidade de Tamanduá que tem um afluente do Riacho do Meio, o riacho do Tamanduá que também já não corre mais, só há água na nascente. Neste momento várias pessoas das comunidades, entidades e organizações presentes fizeram falas. Todos trouxeram como reflexão, a importância da iniciativa das comunidades e da necessidade de continuidade da luta; denunciado o avanço do agronegócio no cerrado de Côcos e as suas conseqüências. Um caso emblemático é o megaprojeto da Santa Colomba Cafés que tem licenciamento para desmatar 107 mil ha nas cabeceiras dos rios Carinhanha, Riacho do Meio e Itaguari.

Na caminhada foi reforçada a importância de iniciar experiências de recuperação das áreas degradadas e a necessidade se unir as outras comunidades para a luta se tornar maior e se fazer ouvir mais longe.
O evento foi encerrado com poesias declamadas por jovens das comunidades, distribuídas 100 mudas de jenipapo, palmeira, imburana de cheiro e jamelão. Crianças plantaram mudas na margem do rio e ao final foi partilhado um almoço coletivo, com farofas levadas pelos presentes e uma saborosa feijoada. E ainda houve quem se refrescasse nas águas geladas do Riacho do Meio.

Equipe CPT Centro Oeste

Gostou desse conteúdo? Compartilhe
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp