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CPT BAHIA

Comunidade da Bocaina resiste e realiza Pré-Jornada de Agroecologia

Reunidos em torno do tema central “Terra e Território”,  a comunidade remanescente quilombola de Bocaina, município de Piatã, sediou a Pré-Jornada de Agroecologia  que reuniu, entre os dias 13 a 15 de novembro, organizações e grupos sociais como; indígenas, quilombolas, ribeirinhos, povos de terreiros, pequenos agricultores, sem-terra, sem-teto, em prol da luta pela bem-viver de seu povo na sua terra ancestral. Durante os três dias de ação circularam cerca de 250 pessoas nos espaços destinados às ações da pré-jornada.

Foram momentos de celebrações culturais, rodas de conversa e oficinas com os movimentos populares. Na latada construída para o evento, em frente à Capela de Santo Reis, a comunidade reafirmou sua resistência e existência, a luta por meio da arte, da alegria e da festa. O evento foi organizado pelo Elo Chapada Diamantina da Teia dos Povos. Para Mestre Joelson, da Teia dos Povos: “celebrar e manifestar a cultura são ferramentas importantes para os povos se firmarem em seus territórios”.

A Pré-Jornada realizada no território das nascentes, entre as serras de Piatã, teve como foco contribuir para o enfrentamento da atual conjuntura vivenciada pelas comunidades de Bocaina e Mocó que lutam contra as graves consequências geradas pelo avanço da mineradora, que causam severos impactos na saúde física e mental dos moradores locais, ocasionando o êxodo do campo para a cidade, destruição da paisagem; supressão da fauna e da flora; contaminação da água e do solo; poluição sonora, do ar e dos rios.

Os povos indígenas e quilombolas protagonizaram o debate sobre o cuidar, que também representa a busca por reparação das irregularidades nas licenças para a atividade de mineração que têm sido executadas nas serras onde vivem famílias assentadas há centenas de anos, nas serras de Piatã.

Por meio de uma união negra, indígena e popular, ocorreu a partilha. No mesmo espaço professores universitários, pequenos agricultores, jovens e anciões debatiam juntos  formas de assegurar seus direitos e o da terra.  A agroecologia é o que os povos tradicionais já fazem há séculos, mas que o sistema violento econômico que é imposto nos distancia dia após dia. Deste modo, foi possível entender a agroecologia de modo crítico, enquanto meio e caminho para a vida sem agressão ao próximo, a natureza e a si.  

A Pré-Jornada na Bocaina foi um encontro da população rural, que vive do cuidar da terra, das sementes e dos conhecimentos ancestrais dos Povos originários e chegados da diáspora há centenas de anos. Os visitantes puderam conhecer de perto as riquezas resguardadas por essa população em seus quintais medicinais, matas densas, nascentes e campos de produção.

Os encontros estão sendo organizadas em diversos territórios, e são um chamado para a 7a edição do encontro Teia dos Povos, em Janeiro de 2022 às margens da Baía de Todos os Santos no Quilombo da Conceição em Salinas das Margarias (BA) – território quilombola e pesqueiro. A VII Jornada de Agroecologia da Bahia será um espaço de mobilização e luta em defesa da Água, Terra e Território. A última edição da Teia, em 2019, foi realizada no território indígena Payayá, em Utinga, celebrando a retomada de uma pequena terra, mas de valor sagrado aos remanescentes da etnia e reuniu mais de 4 mil pessoas. 

O Elo Chapada Diamantina da Teia conta com o apoio do Movimento S.O.S Bocaina e Mocó, Mutirões Agroecológicos de Piatã, Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Fórum Popular da Natureza, Movimentos dos Pequenos Agricultores  (MPA), Movimento Sem Terra (MST), Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Instituto Federal Baiano (Ifba), entre outras dezenas de associações e coletivos locais de apoio às organizações. E é nessa relação de troca e apoio mútuo que se tece a teia por um outro mundo possível. Seguimos rumo à VII Jornada de Agroecologia da Bahia e Teia dos Povos, de 28 a 02 de fevereiro de 2021. 

Mais informações em teiadospovos.org

Por: Coletivo ELA

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