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CPT BAHIA

Curso Liderar debate sobre juventudes e espiritualidade libertadora

Ocorreu no último sábado (25), o segundo encontro virtual do Curso de Formação de Lideranças – Liderar, devido à pandemia do novo coronavírus e a necessidade do distanciamento social. O encontro pela CPT Centro-Norte/Diocese de Bonfim, em parceria com o Lar Santa Maria e a Escola Família Agrícola, ambos de Itiúba-BA. Conduzido por Eloisa dos Santos, jovem do Assentamento Nova vida, em Cansanção/BA, teve três assessorias que refletiram sobre o tema: Juventude e espiritualidade libertadora. E 18 participantes entre elas: assessores/a, equipe pedagógica e na sua maioria jovens, representando as comunidades rurais de Itiúba, Cansanção e Monte Santo.

O primeiro assessor foi Aderbal Nascimento da Silva, que é militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular e do Sindicato dos trabalhadores da Agricultura Familiar de Campo Formoso, ele cita o Evangelho de Mateus: (5-3:16, para chamar a juventude a ser sal e Luz no Mundo. Ele comenta que a juventude daqui e de todo Brasil tem um grande desafio, que é viver em uma sociedade que falta amor, carinho e espiritualidade, onde os direitos estão sendo cada vez mais tirados, e os/as jovens cada vez mais excluídos. E na compreensão de que não existe a juventude, mas juventudes diversas, ele traz á lembrança os diversos rostos da Juventude: quilombola, do campo, ribeirinha, de terreiro, urbana, indígena, missionária, religiosa ou ateu, estudantil, das ruas e periferias, entre outros que merecem todo nosso respeito. Ele continua comentando que mesmo em meio a isso tudo, existe a esperança de um Deus bondoso, aquele que é citado no Evangelho de João: “eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância.” E Aderbal finaliza “E por acreditar nisso, milito na luta por uma sociedade melhor e exerço a minha espiritualidade no dia a dia, seja na igreja, na associação ou na comunidade; Sou um jovem de espírito, moro na roça e tenho orgulho de ser da agricultora familiar.”

segundo encontro virtual do Curso de Formação de Lideranças – Liderar

Luciano Bernard, frei franciscano e assessor da CPT BA, acrescenta dizendo que é importante para nós querer viver e ter vida em abundância, mas isso não é qualquer coisa, visto que nenhum de nós foi criado para sofrer. E neste sentido o Luciano  comenta: “Deus nos deu uma casa com todas as condições para vivermos bem e em harmonia; e não é Ele que provoca a doença, nem a miséria do seu povo, nem é Ele que destrói a natureza; Por isso não será Ele que vai cessar com o sofrimento humano.” Refletir sobre isso nos ajuda a ter uma espiritualidade libertadora, a entender que estamos expostos a uma série de doenças quando ingerimos alimentos com agrotóxicos, hormônios e conservantes; a entender que a política deste país, voltada para a elite e para os grandes empreendimentos industriais e minerais, o agronegócios, a energia eólica, que invadem as comunidades, sua terra, secam seus rios e violam os direitos humanos e ambientais, causam muita dor na vida  das pessoas. Luciano cita os elementos da natureza, como a terra, água, vento e fogo, dizendo que não são o que parece, que são muito mais que isso; São elementos de uma espiritualidade libertadora que nos leva a entender, que Deus não esse Deus que age sozinho, Ele está dentro de nós, caminha conosco e nos inspira a ser o fermento na massa, pois somos pouco nesta luta e precisamos seguir em frente.

Maria Mercedes Marin del Castillo, do Lar Santa Maria de Itiúba/BA, aborda a espiritualidade como uma missão e compromisso de construir ações concretas a favor da vida. Neste aspecto, a assessora conta um pouco a história da sua instituição, ao nascer de um grupo de pessoas inquietas que ouvindo o apelo da sua comunidade, lutam juntos para melhorar suas vidas. “Sabemos que apesar de todas as dificuldades, somos pessoas que amamos e nos comprometermos a favor da vida e isso se enriquece ao construir juntos pontes de solidariedade e a partilha, como ações concretas e a nossa juventude é chamada a agir neste sentido. E isso é um desafio, pois sempre faltou vontade política para isso.” Disse a assessora, que também comenta que a missão é bonita, mas é arriscada e a centralidade da missão é a luta pela vida. Assim, ela pergunta aos jovens: O que queremos construir? qual é a nossa missão? Nesta reflexão ela traz elementos como a diversidade, a equidade, quebra de preconceito, inclusão de pessoas e igualdade de gênero, como forma de fazer uma transformação consistente na nossa sociedade. E ao falar do jovem de Nazaré e sua missão de cuidar da vida, numa realidade de exclusão e morte trazida à Terra e que até hoje estamos presenciando, principalmente com esta pandemia, Mercedes fala que a humanidade precisa ser escutada e chama a atenção da juventude neste sentido.

Durante o debate, os/as jovens demonstraram sua espiritualidade como agentes de transformação social no contexto em que estão inseridos, como podem ser percebido na fala de Ariane Mendes da Silva, da comunidade de capoeiras, Itiúba/BA e aluna do Lar Santa Maria: “Acho que o jovem é aquela pessoa que não se contenta com o mundo, quer mudar e isso não é fácil, mas mudando um pouco a nossa comunidade, já é muita coisa. Jovem é quem não pensa só em si, pensa nos outros, na comunidade e faz de tudo para melhorar.” Observa-se nas falas, que ao ver as injustiças sociais, os jovens desejam um mundo mais fraterno e justo, e isso fica ainda mais evidente quando Patrícia Pereira dos Santos, da Comunidade de Junco da Laje Nova, Cansanção/BA e Estudante da EFA de Itiúba diz: “Eu acredito que todas as pessoas que têm um espírito de jovem dentro de si, tem uma inquietude, uma vontade de querer o melhor para o mundo.”, “Jovem para mim é não se contentar, é procurar dar um passo a cada dia, buscar coisas novas que venha para o bem de todos.” completa Silvonei do Nascimento Trindade, do povoado Vázea formosa, Itiúba/BA e aluno do Lar Santa Maria.

Na avaliação do encontro, os jovens demonstraram sentimentos de gratidão por esse momento de aprendizagem, compreendendo que não existe a juventude, mas juventudes diversas. E considerando que vivemos em uma sociedade que é marcada pelo preconceito, pelo extermínio e tantas outras formas de opressão e nega esta diversidade é animador acompanhar estes jovens com capacidade criativa, que grita pelo protagonista e persevera na luta por uma nova sociedade.

Por: Nildnea Andrade Castro – Equipe Pedagógica do Liderar

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