Estamos diante de uma pandemia – COVID 19, que nos assusta, impacta, questiona e evidência:
- O descaso que os governantes sempre tiveram com a saúde pública;
- A angústia, o medo, o pânico, que tomou conta do coração de tantas pessoas;
- As relações de desigualdade social: Discriminações, preconceitos, xenofobia, principalmente com negros/as e pobres, os assassinatos;
- O aumento dos feminicídios;
- A degradação da vida humana e do meio ambiente;
- As empresas de mineração, eólicas e energia solar, agronegócio funcionando, visando seus lucros, colocando em risco a vida dos funcionários e das comunidades.
Nesta coluna vozes das mulheres, compartilho com vocês, alguns textos bíblicos que me ajudaram e ajudam na formação de lideranças, sobretudo nas relações humanas. Aproveito deste tempo de Natal, que nos convoca a enfrentar os dragões que ameaçam a Vida nova que nasce e renascem no meio de nós. A situação que vivemos é como aquela da mulher do livro do Apocalipse 12, 1-6 – A Vida que está para nascer é ameaçada pelo dragão. Esse dragão tem nome. É tudo o que divide. É o que está atrapalhando a vida das pessoas e das comunidades, provocando o ódio, a intolerância, a violência, assassinatos, discriminação, preconceito.
Por outro lado, a mulher resiste, não se entrega luta e vence. Porque a Mulher representa toda a humanidade, enquanto gera filhos/as que lutam contra as forças da morte e da maldição. É o povo de Deus, as comunidades chamadas a defender a vida humana, transmitir a benção de Dele para todas as pessoas e consertar o mundo estragado pela maldade. É Maria a moça humilde e pobre de Nazaré, que gera o menino Jesus, esperança de libertação para todos/as. Esta mulher gritando em dores de parto representa a esperança de vida que existe nos corações dos pobres. Esperança ao mesmo tempo, frágil e forte. Frágil, porque toda mulher na hora de dar luz não tem defesa, não pode lutar, pois, está totalmente entregue a doar a Vida nova a um ser humano. Maria representa todas as mães que geram filhos/as e que garantem o futuro da humanidade. Esta Vida esperança dos pobres que celebramos no Natal, se torna boa notícia na maneira como nos relacionamos com as pessoas.
Destaco aqui breve relato de Jesus e seu relacionamento com as mulheres. Podemos dizer que Jesus foi muito corajoso para o contexto social de sua época, rompendo com um machismo e patriarcalismo, tão arraigado, possibilitando que as mulheres o seguissem na qualidade de discípulas, enfrentando a cultura machista predominante em toda sociedade. É uma atitude de quem tem coragem de romper com o estabelecido, propondo novas relações. Essa foi uma constante na prática de Jesus.
Jesus estabeleceu um novo padrão no relacionamento com as mulheres e, por sua vez, também as mulheres estabeleceram outra relação com Jesus. É um novo relacionamento baseado na reciprocidade, onde também o Senhor aprende com as mulheres. Com isso, acenderam-se luzes que indicaram a construção de um relacionamento igualitário. Vários textos apontam para o novo relacionamento que Jesus e as mulheres estabeleceram mutuamente. Vejamos alguns:
JESUS VALORIZA O COTIDIANO DAS MULHERES
- Lc 13,21 – Jesus compara o Reino de Deus com o fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, até levedar a massa.
- Lc 15, 8 – Jesus compara o Reino de Deus com uma mulher, que, tendo perdido uma moeda, varre a casa cuidadosamente até encontrá-la e quando a encontra, reúne as amigas para festejar.
- Mt 15,21- 28 – Cura da filha da Cananéia.
Para cultura da época, a doença era vista como maldição por isso, era motivo de exclusão. Jesus, curando mulheres quebra esse preconceito reintegrando-as na sociedade e restituindo-lhes a dignidade. Jesus ultrapassa as leis da pureza, a lei do sábado. Leis desumanizantes, devem ser substituídas por relações humanizadoras da acolhida, da escuta, da compreensão, da libertação, da cura.
- JESUS PERDOA AS MULHERES
- Jo 4, 1-40 – A mulher samaritana é considerada duplamente pecadora: Por ser samaritana e por ter tido cinco maridos. Um detalhe importante: Jesus se revela à samaritana como Messias. É a primeira vez que Jesus se identifica como o Messias esperado pelo povo de Israel.
- Jo 8, 1-11- Jesus acolhe, defende e perdoa a mulher tida como adúltera pelos escribas e fariseus: “nem eu te condeno. Vai e não peques mais”.
- JESUS TÊM AMIGAS
- Lc 8, 1- 3; 23-49 e Mc 15, 40 – 41 – Muitas mulheres acompanhavam Jesus na sua Missão – “seguiam e serviam”. Portanto, Jesus se fez acompanhar por discípulas, que não são apenas seguidoras, mas servidoras, salientando o papel ativo desempenhado pelas mulheres. Isso acena para um discipulado de iguais
- Jo 20,1 – 13 – Maria Madalena encontra Jesus Ressuscitado e este a chama pelo nome: “Maria”. Ela foi curada por Jesus e o seguia desde a Galileia; acompanhou sua paixão e morte, e foi a primeira testemunha de sua ressurreição e se tornou a primeira anunciadora da Boa Notícia da Ressurreição e faz isso enviada pelo próprio Ressuscitado.
- JESUS APRENDE COM AS MULHERES
- Lc 2,39-40 – Sem dúvida , Maria de Nazaré foi uma grande mestra no processo de educação de Jesus. Provavelmente Ele foi aprender com Maria sobre a vida das mulheres do seu tempo.
- Mc 7, 24 -30 -A Cananéia reage diante de Jesus e o convence por meio de seus argumentos. É uma mulher inteligente, conhecedora da realidade, dizendo que o povo vive das migalhas que as crianças deixam cair. Porém, ela não se contenta com as migalhas e, diante da resposta de Jesus argumenta: “É verdade , Senhor, mas também os cachorrinhos ficam debaixo da mesa e comem das migalhas que as crianças deixam cair” e Jesus lhe responde: “Por causa disso que você acaba de dizer, pode voltar para sua casa; o demônio já saiu de sua Filha”. Estudos confirmam que, depois desta conversa com a Cananéia, Jesus mudou sua estratégia de missão.
- JESUS ELOGIA AS MULHERES
- Mc 3, 31 -35 – “Quem faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã, minha mãe”.
- Mc 12, 41- 44 -Jesus elogia a viúva: “Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros…ela deu do seu necessário.
Nós sabemos que as relações sociais, culturais, religiosas, econômicas, políticas que construímos podem ser mudadas. Acrescento mais dois textos bíblicos que podem nos iluminar. Lembrando que têm outros textos muito ricos neste sentido.
Lc.10,25-37 – O SAMARITANO: a palavra central é CUIDADO. Quem deve ser cuidadoso? Homem e mulher. Educar para o cuidado da Vida, acolhida, tomar as pessoas nos braços, curar as feridas…A missão dada por Deus à humanidade, isto é , a homens e mulheres, é “ cultivar e cuidar” do planeta (Gn 2,15) Portanto, o cuidado de todas as formas de vida é dimensão essencial não somente do ser feminino, mas também do ser masculino.
Lc 15, 11-32 – O PAI MISERICORDIOSO: Segundo o modelo de sociedade patriarcal da época, o Pai devia governar com autoridade manter os/as filhos/as, mulher… na submissão. Nesta Parábola o Pai tem atitudes que o diferencia de um Pai com atitudes patriarcais. Ele é acolhedor, compreensivo e justo. O texto está repleto de compaixão, de cenas de ternura, de aconchego, de acolhimento e perdão. É um Pai misericordioso, amoroso, carinhoso e afetuoso.
Ao apresentar esta parábola, Jesus questiona o privilégio da primogenitura quanto o direito a herança. Embora não sendo o primogênito, o pai generoso dá a ele a liberdade de vivenciar outras experiências de vida e o acolhe quando regressa fracassado, humilhado e arrependido. Desestabilizar o modelo vigente na época e apresentar alternativas de outros modelos, é exatamente o motivo da frustração do filho mais velho que quer manter a norma, a rigidez da lei, dos costumes, da tradição que o privilegia enquanto primogênito.
Subsídios do CEBI; Novas masculinidades e Bíblia-Ildo Bohn Gass e Basta de violência contra a Mulher-Alzira Gomes Machado)
Maria, a Mãe de Jesus – Carlos Mesters
Por: Terezinha Maria Foppa – Irmã Catequista Franciscana e agente da CPT-BA