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CPT BAHIA

Jovens do Liderar debatem realidade das juventudes em tempos de pandemia

Na tarde do dia 27 de junho, a CPT Centro-Norte/Diocese de Bonfim, em parceria com o Lar Santa Maria e a Escola Família Agrícola de Itiúba-BA, realizou um encontro virtual com os/as jovens inscritos/as no Curso de Formação de Lideranças (Liderar 2020). O objetivo do encontro foi de dialogar sobre as realidades percebidas e vividas pelas juventudes durante a pandemia do novo coronavírus.

Mais de vinte jovens de comunidades rurais dos municípios de Itiúba, Monte Santo, Cansanção, Nordestina, Jacobina e Mirangaba participaram do encontro, que foi coordenado por Cíntia Souto, jovem moradora da comunidade de Bastião, em Nordestina. Na oportunidade, contou-se com a  assessoria da pedagoga e mestra em educação Laurinda Julião e da jornalista e agente da CPT Centro-Norte/Diocese de Juazeiro Juliana Magalhães.

A pedagoga iniciou sua provocação ressaltando que a pandemia explicitou as desigualdades que já existiam e subalternizavam as camadas populares da sociedade. Para Laurinda, este momento não pode ser de lamentações, mas precisa se transformar em  um tempo oportuno de esperançar, de repensar as formas de consumo e fazer mudanças. Neste sentido, destacou o papel do/a líder.

“Neste momento social, político e econômico que faz sangrar as desigualdades, o/a líder tem papel de transformar, de levar esperança e influenciar a comunidade a pensar numa perspectiva ecológica, do equilíbrio, mobilizar as forças, combater as injustiças a partir do lugar onde vive e, como coletividade, ajudar na construção do Bem Viver. Para isso, o/a líder precisa cuidar da comunidade e estar atento/a ao autocuidado em todas as dimensões”, afirmou Laurinda.

Na mesma direção, Juliana Magalhães destacou condições de vulnerabilidades das juventudes nesse contexto, tanto pela possibilidade de contrair o  coronavírus, quanto por outros impactos atuais e a longo prazo, decorrentes da pandemia e das políticas retroativas implementadas no país, de 2016 até agora, quando o Brasil é liderado por “um governo de cunho fascista, extremamente autoritário e despreocupado com as mortes”.

Ao afirmar a diversidade das juventudes do Brasil, compostas por 47 milhões de jovens, a agente da CPT problematizou situações vividas pela juventude trabalhadora, vítima do trabalho precarizado, do desemprego e da informalidade crescente mesmo antes da pandemia; dos/as jovens estudantes, expostos/as às desigualdades no acesso à educação e às novas tecnologias, fator limitador dos sonhos e das possibilidades de planejar o futuro; assim como o genocídio da juventude negra, cujos índices são revoltantes.

Outro aspecto abordado foi em relação à juventude rural. Na visão da assessora, menos prejudicada do que as juventudes urbanas no atual momento de pandemia, pois, continuam trabalhando na produção familiar, comercializando e reinventando suas formas de organização e manutenção de seus modos de vida e sustento. Contudo, “a pandemia deixa claro que o capital não ficou de quarentena, a exploração dos trabalhadores e dos territórios continua a todo vapor e avançando”, destacou Juliana.

Diante de todos os desafios colocados, as juventudes também foram sinalizadas como sujeitos históricos com maior capacidade de enfrentar o momento presente e criar novas possibilidades. “Apesar de tudo isto, é a juventude que tem mais potencialidade, que está a frente nesta trincheira. Porque essa vida mediada pelas novas tecnologias é dos mais jovens, dos chamados ‘nativos digitais’, principalmente, neste momento de pandemia e isolamento social. Precisamos pensar, como as juventudes podem mostrar sua voz neste momento?” Questionou a jornalista.

Durante o debate e na avaliação do encontro, os/as jovens expressaram gratidão por fazer parte do Liderar, sentimentos de angústia e preocupações diante do momento presente e do futuro, como pode ser percebido no depoimento de Eloisa dos Santos, do Assentamento Nova vida, em Cansanção.

“Este encontro foi muito importante, por possibilitar falar sobre o que estamos passando. Sou estudante de EFA, filha de assentados, moro no assentamento, apesar do momento, as pessoas estão vendo o tamanho do vírus e se protegendo, apesar de haver pessoas que acreditam que o vírus não vai chegar a comunidade. Como estudante de EFA, apesar de estar recebendo algumas atividades de professores(as), sinto angústia, não é a mesma coisa de estar na escola, não tenho notebook. É difícil escrever pelo celular, difícil para mim e para os meus colegas”.

O Liderar é promovido há 16 anos pela CPT e parceiros. Neste ano de 2020, é previsto o início de três novas turmas, compostas basicamente por jovens de comunidades impactadas por empreendimentos do capital (mineração, parques eólicos), comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, quilombolas, acampados/as e assentados/as da Reforma Agrária. Com a realidade da pandemia, os processos de formação virtual apresentam-se como uma possibilidade que veio para ficar, está atravessada, porém pelo desafio do acesso de qualidade às novas tecnologias. Assim, a antiga bandeira de luta pela democratização da comunicação continua urgente e cada vez mais necessária.

Texto: Maria Aparecida de Jesus Silva – Agente da CPT Centro Norte, Diocese de Bonfim-BA.

P/ Equipe pedagógica do Liderar.

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