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CPT BAHIA

Militância nas redes: quando vamos pautar?


No jornalismo, a teoria da Agenda Setting diz respeito à capacidade dos meios de comunicação de “agendar” temáticas na sociedade, ou seja, fazer com que determinados assuntos sejam discutidos pela população. Se você parar um segundo e prestar atenção, vai perceber que as conversas da feira, da fila do banco ou até mesmo de dentro de casa, são, na maioria das vezes, aquelas fruto dos fatos que têm grande exposição na mídia.

Basta lembrar, por exemplo, do crime da Vale em Brumadinho, no final de janeiro. Aquela imagem da barragem rompendo (que me dá arrepios até hoje!) foi repetida inúmeras vezes na TV e não se falava em outra coisa nos noticiários. Logo, o assunto repercutiu bastante e agora, tempos depois, por não ter mais tanta exposição na mídia, quase você não escuta ninguém – que não esteja ligado ao assunto – comentando sobre isso.

De forma geral, os movimentos sociais, organizações populares e suas respectivas pautas, não são agendados pela grande mídia. Quando muito, historicamente, sempre foram enquadrados e tratados de forma negativa, criminalizados. Sem espaço na mídia convencional, trabalhadores e trabalhadoras fortaleceram as suas expressões populares, a exemplo da cultura, e criaram novos jeitos e formas de se comunicarem, dando origem ao que conhecemos atualmente como comunicação popular, comunitária e alternativa.

Com a popularização das mídias digitais e a sociabilidade cada vez mais mediada pelas redes sociais online, muita gente pensou que a comunicação seria de fato democratizada. Entretanto, a revolução tecnológica é indissociável da reestruturação do capitalismo, sistema marcado pela produção de desigualdades.

Não estou negando, no entanto, que as novas mídias proporcionaram uma pluralidade e diversidade de vozes infinitamente maiores do que as mídias de massa (rádio, TV, impresso). O paradigma tradicional da comunicação, no qual um emissor fala para vários receptores foi quebrado. Os receptores, consumidores de informação, são também agora os emissores, produtores de conteúdo.

Mas, se antes, os meios estavam concentrados em grandes conglomerados de mídia, os donos das rádios e TVs, agora, acrescenta-se a essa problemática os gigantes da tecnologia. Empresas como Google e Facebook não param de crescer às custas da coleta e venda dos nossos dados, transformando essas informações em conteúdo personalizado.

Só que esse texto não é para falar dessa conjuntura macro, apesar de está diretamente ligado a ela. O que vem me chamando a atenção, me perturbando nos últimos tempos (acredito que desde a eleição passada), é a forma que nós, militantes, atuantes em causas sociais (tão atacados ultimamente) temos feito uso das redes sociais na Internet.

Para mim, a eleição presidencial de 2018 deixou duas coisas muito claras: as redes sociais ocupam papel fundamental  na sociedade e a esquerda ainda não se apropriou delas; e nesses espaços o jogo é muito mais sujo do que se pensava, todo dia aparecem notícias de como os softwares e robôs (pagos por alguém, claro!) atuam para criar e espalhar desinformação nas redes.

E o que temos visto é que nós continuamos perdidos e, o pior, insistindo na mesma estratégia que contribuiu para eleição de Bolsonaro. Sabe aquela historinha que se falou tanto dele, que o cabra acabou se tornando conhecido e ganhou a eleição? Pois é, hoje, ministro “X” diz uma baboseira (o que é muito comum!), o presidente tuíta um absurdo, e a gente passa horas, dias repercutindo isso. Não que as bizarrices desse Governo tenham que ficar escondidas, mas, acredito, que a gente pode fazer muito mais do que apenas reagir.

Ainda tendo como exemplo a eleição, acho que esquecemos muito rápido do #viravoto. Por que esse movimento foi tão positivo, mesmo a gente perdendo as eleições? Na minha opinião, primeiro, porque foi muito concreto, real, longe de ser apenas retórica, as pessoas estavam nas ruas. Segundo, porque a estratégia foi a da proposição, a de mostrar e divulgar um projeto político. Um terceiro elemento e não menos importante é o do afeto, o do real sentido da comunicação, que é dialógico. Estamos dispostos/as a de fato nos comunicarmos, nos conectarmos com as pessoas dentro e fora das redes online?

Em um cenário de mais possibilidades de propagação de vozes, continuamos sem pautar a mídia, o debate público. E, nesse momento em que o Estado se mostra autoritário, pouco transparente – com medidas e ações que querem restringir o acesso à informação -, é urgente que defendamos as nossas pautas.

Juliana Magalhães –Agente da CPT Bahia, jornalista e mestranda em Extensão Rural (Univasf).

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