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CPT BAHIA

Redescobrindo as raízes da resistência com o povo Tupinambá

Foto: Gilmar Santos/ CPT Bahia

Recentemente, entre os dias 24 e 27 de outubro, com mais de cem jovens de diferentes regiões da Bahia e Sergipe, tive o privilégio de participar do Intercâmbio Regional de juventudes junto ao povo indígena Tupinambá da Serra do Padeiro, situado no município de Buerarema, Sul da Bahia. A atividade foi organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Brasileira, Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

A aldeia está localizada em uma área preservada pelos Tupinambá, que assim como diversos povos originários, sempre conviveram em harmonia com a natureza.  Um povo guerreiro e forte, com as raízes culturais dos ancestrais que habitaram e ainda permanecem ali, buscando sempre cuidar e zelar do bem-estar de todos (as). Ao adentrar aquele espaço místico, eu e várias outras pessoas, pudemos sentir forças do bem a nos acompanhar e cuidar de nós, a natureza nos envolvendo em todo o nosso ser. A experiência do encontro com os encantados da Serra do Padeiro, por mais que eu queira, não pode ser expressada em palavras. 

Na Serra do Padeiro, desde muito cedo, as crianças aprendem a importância do território, a história dos povos que ali viveram durantes anos e sempre buscaram preservar aquele espaço, em especial o respeito a terra mãe e a toda natureza que os envolve com seus protetores. Todos e todas, ali têm a função de passar o respeito e o cuidado com a mãe terra e as águas.

Diferente do que a mídia prega nas redes sociais, aquele povo é organizado e está em constante processo de aprendizagem, sobre suas culturas e ao mesmo tempo sobre as questões relacionadas ao mundo que ultrapassa a aldeia. Para os Tupinambá, é preciso se informar e ser informado, para nos momentos precisos se defender.

O não indígena tentou destruir toda a vida que ali existe, segundo os indígenas, destruiu cerca de 100 nascentes, derrubou matas, tirou vidas humanas e animais, mas o povo tupinambá, tem em suas raízes na força dos encantados que há milhares de anos vem protegendo e cuidando do seu povo, se comunicando para que aquilo que foi dado por Deus seja cuidado e protegido. “Deus quer seu povo bem, com alimento na mesa, terra e água para plantar e produzir, respeitando o tempo para cada coisa e o que a mãe terra pode dar” afirmou uma moradora da aldeia.

Diante da realidade do povo Tupinambá da Serra do Padeiro, foi possível compreender as dinâmicas que conduzem o ritmo, o volume e o sentido das práticas econômicas e sociais daquele povo, que mesmo diante dos conflitos presentes estão organizados em busca da defesa da terra e da vida, atentos aos calendários que tem forte ligação com seus costumes e ao mesmo tempo com as relações sociais (cerimônias, rituais, ciclos reprodutivos) sendo que os ciclos ecológicos determinam os ciclos produtivos da aldeia.

A história dos povos indígenas é marcada por resistências a um sistema de destruição e genocídio. A atual conjuntura do país traz vários desafios para a sobrevivência dos povos originários, cujos territórios sempre foram alvos da ambição desmedida de madeireiros, mineradoras, garimpeiros, fazendeiros e do próprio Estado, que, historicamente tem violado direitos, praticado ou compactuado com uma série de violências sobre as diferentes nações indígenas no Brasil.

Tudo isso devido a um sistema que visa simplesmente poder e aumento de lucro, sem se importar com os seres vivos que coabitam e cuidam dos territórios. Portanto, buscam exterminar aqueles que vivem no meio da mata, cuidando do bem mais preciso que ainda existe em nosso planeta, a mãe terra e as águas. De acordo uma indígena que nos acompanhou em uma trilha na aldeia, nos últimos anos seu povo vêm sofrendo grandes repreensões por parte do Estado e muitas lideranças estão ameaçadas de morte.

Jovens e mulheres que estudam na cidade, passaram por momentos de não poder sair da aldeia, se saíssem, poderiam sofrer tocaia na estrada.

Atualmente vivem todos atentos, o povo Tupinambá é um povo que tem sua auto organização e não depende do Estado para a realização de suas ações de defesa da terra e do seu povo. Nos últimos anos, vem buscando meios de depender cada vez menos do Estado. Com isso, a auto organização da juventude e das mulheres se faz presente no processo, onde através da produção de alimentos saudáveis buscam sua sustentabilidade, tanto econômica, quanto social e ambiental, sabendo que para manter viva sua cultura, todo dia é um processo de resistência e luta contra o sistema capitalista selvagem que só visa o lucro e a destruição dos povos originários.

Edilene Alves – Agente da CPT Bahia, Assistente Social e pós-graduada em políticas públicas.

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