Na tarde de ontem, 23 de novembro de 2021, a CPT da Diocese de Bonfim realizou a sua Assembleia anual de Avaliação e Planejamento, de forma virtual, com a participação de 28 representantes das comunidades camponesas acompanhadas pela CPT, Movimentos Sociais da região e parceiros.
Essa Assembleia foi marcada pela significativa presença de várias mulheres, pela participação lúcida de vários leigos e leigas que enfrentam os desafios de ficar unidos e unidas, somados à CPT, seus princípios, metodologia autônoma e sinodal; alertando para os riscos das divisões quando se cede às ilusões das mineradoras, eólicas e agrohidronegócio que ameaçam as terras defendidas e conquistadas nesses anos todos.
As presenças de Padre Luiz Tonetto, agente da CPT desde a sua fundação na Diocese de Bonfim, há 42 anos, que retoma a história da reconquista da terra, da água e faz um apelo pacífico, mas firme, para todos e todas presentes a dialogar com os padres atuais para que estejam entrosados com as perspectivas dos Evangelhos que são o “melhor catecismo de Jesus”; o Pe. José Hehenberger, outra presença profética e histórica, que ajuda a tornar visíveis os conflitos, para saber qual lado estamos como CPT, como cristãos, como leigos e leigas. A presença do bispo diocesano, Dom Hernaldo Pinto Farias, sintética e clara na sua posição ao abrir os trabalhos, manifestando o apoio e incentivo à CPT, na opção pelos pobres, em plena sintonia com as perspectivas pastorais do Papa Francisco, no encorajamento e incentivo aos leigos e leigas e chamando a atenção para a necessidade da CPT, com outras pastorais, responder firmemente às acusações de pessoas e de organizações que se declaram contra as linhas pastorais de Papa Francisco, unindo também à participação do Sínodo Latinoamericano e a Semana Social Brasileira.
O Frei Luciano Bernardi, assessor da CPT BA, iniciou as provocações para uma análise da conjuntura, destacando que vivemos uma crise civilizatória, marcada por conflitos e que, a CPT, é feita por um conjunto teologal, no seguimento dos passos do bom pastor para a nossa vida e a vida do universo que se integra a nossa.
O Frei Luciano destacou a questão da Terra, fundamental no trabalho da CPT, chamando a atenção para a necessidade de atender não só ao campo, também, as periferias das cidades, as pessoas em situação de rua e fome. Falou ainda, da corresponsabilidade ética, necessária para corrigir os rumos do país. A ética da justiça em um mundo estruturalmente injusto, da gratuidade, da compaixão, da alteridade e acolhida, da paz e da vida, da incompatibilidade entre religião e dinheiro e a ética do cuidado com a casa comum.
Dentre os desafios que ilustram as realidades vividas nos territórios, as comunidades destacaram a falta de trabalho, renda e dificuldade de garantir a produção diante dos períodos de estiagem prolongada, da concentração da terra e da água, das grilagens, da pressão das empresas eólicas, mineradoras e do Estado, que buscam beneficiar os empreendimentos privados, violando os direitos das comunidades e ameaçando a permanência em seus lugares de vida. Nesse contexto desfavorável, agravado pelo governo de morte vigente no país, a fome volta a ser uma realidade assombrosa para as famílias que sofrem com a carestia de tudo e com a ausência de políticas públicas que atendam às suas reais necessidades.
Os e as trabalhadoras lembraram os desafios decorrentes da pandemia que, além das doenças e mortes, impediu as comunidades de se reunirem, prejudicando processos organizativos e coletivos, além disso, as escolas “pararam”, muitos estudantes ficaram atrasados no letramento e jovens deixaram a escola para trabalhar a fim de ajudar as famílias. Destacou-se, ainda, as situações de violência contra as mulheres, aumentadas na pandemia e o extermínio de jovens nos municípios.
Os desafios não são poucos, mas é preciso olhar também para as conquistas, alimentar a esperança e seguir na luta. Neste sentido, a Assembleia, fez memória dos frutos da luta e da organização, dentre elas, a conquista das vacinas contra o Coronavírus, que possibilitaram o retorno das reuniões comunitárias e encontros. A produção possibilitada com as chuvas e com os projetos produtivos, as ações de solidariedade, de conquistas de políticas públicas, de resistência e defesa dos territórios apontando para a continuidade das lutas, frente às violações dos direitos para o protagonismo e autonomia das comunidades. E, também, para a necessidade de proposição de um projeto de sociedade que envolva campo e cidade, contemplando as diversas dimensões da vida.
A Assembleia foi finalizada com uma bonita celebração, em agradecimento ao Deus da vida pela presença do encontro, abraçados na missão, na paixão pelo Reino de Deus, nas lutas das comunidades, dos movimentos, das entidades, das pastorais e dos povos da terra, das águas, nas causas dos pobres e da casa comum. Agradecemos ao Deus da vida por chegarmos até aqui. Um ano difícil, com tantas lágrimas e sacrifícios, angústias e sofrimentos e, ao mesmo tempo, um ano de resistências, de contemplação e ação que motiva a esperança de que a luta não é em vão e de que assumir a causa dos desfavorecidos e oprimidos é missão da qual Jesus Cristo não arredou o pé e nós também permanecemos firmes e confiantes no Deus Libertador que caminha com seu povo.
Texto: CPT Centro Norte, Diocese de Bonfim-BA
Colaboração: Frei Luciano Bernardi