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CPT BAHIA

Grupos de camponesas e organizações sociais participam de seminário celebrativo do Dia da Luta das Mulheres e de manifestação em defesa dos direitos e das vidas das mulheres, em Jacobina, no dia 8

CPT Diocese de Bonfim-BA

No dia 08 de março, última sexta, grupos de mulheres provenientes de territórios tradicionais de  fundo de pasto, assentadas e acampadas da Reforma Agrária, quilombolas e pequenas agricultoras de comunidades acompanhadas pela CPT-Bomfim, além d’A Fazendinha de Jacobina e representações de outras organizações, participaram de um seminário e da mobilização para celebrar o Dia Internacional da Luta das Mulheres, realizado no Centro de Educação Integral – CEI, em Jacobina-BA, levando às ruas, o grito por direitos: terra, território, água e vida digna!

O evento contou com a assessoria de Terezinha Bauer e de Manuela Rodrigues, delegada de polícia civil e sua equipe do Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher (NEAM) de Jacobina-Bahia. 

Durante o turno da manhã, Terezinha trabalhou com exercícios de autocuidado a fim de contribuir para os processos de cura de tantas dores causadas pelas violências e relacionamentos tóxicos que ferem as vidas das mulheres.  A assessora trouxe os cuidados que a mulher deve ter com seu corpo e alma; chamou a atenção para a necessidade de fortalecer os saberes e práticas de cura tradicionais, do uso de plantas e ervas e das rezas e para a continuidade do legado das benzedeiras.  As mulheres fizeram também memória das parteiras, destacando sua importância para as comunidades. Foram lembrados nomes dessas mulheres-mães, que ajudaram a trazer tantos filhos e filhas ao mundo, transmitindo confiança, segurança, solidariedade e cuidado com as mulheres.  

Essa força ancestral, animou a caminhada pelas principais ruas da cidade de Jacobina, chamando a atenção da sociedade para os índices crescentes de violência contra a mulher, estupros e feminicídios que precisam ser veementemente combatidos por toda a sociedade com mecanismos eficazes de proteção às vítimas e com a construção de uma cultura antimachista e antipatriarcal, onde os meninos e homens aprendam a respeitar as mulheres como iguais, repartam as tarefas domésticas e se curem também das dores causadas pelas masculinidades tóxicas. Outro chamado foi à união das mulheres, que requer um esforço para desconstruir a estratégia criada pelo patriarcado, que historicamente busca dividir e criar rivalidade entre mulheres, quando, na verdade, a essência feminina é comunitária. 

Na mobilização, foram distribuídos à população panfletos que divulgam dados alarmantes referentes à violência contra a mulher na Bahia, que ocupa o 3º lugar no ranking nacional, enquanto o país encontra-se acima da média global. No campo, dados dos Cadernos de Conflitos, publicados pela CPT anualmente, revelam que as lideranças femininas estão mais expostas às violências e tendem a sofrer com situações de intimidação, humilhação e invisibilização em maior proporção do que os homens. 

Neste sentido, a trabalhadora Rosa Maria dos Santos Jesus, assentada  da Reforma Agrária, do projeto de assentamento Santa Luzia, em Ourolândia, fala da relevância do trabalho e da produção das agricultoras não somente para o autoconsumo mas também para a cidade, que depende da produção camponesa e destaca o  preconceito que ainda enfrentam: “Eu sou de área de Reforma Agrária, eu e minhas colegas, todas as mulheres, que hoje é dia das mulheres, todo dia é dia de nós. Nós vive lá trabalhando, plantando, e é como diz aquele ditado: se o campo não  planta, a cidade não janta. E nós somos de área de Reforma Agrária, estamos lá produzindo, nossos alimentos  saudáveis que a gente planta sem agrotóxicos, leva ali pra cidade e muitas pessoas nem dão valor pra nós, mas nós estamos lá com Deus e temos fé em Deus que essa sociedade vai reconhecer que nós também tem direitos de nós estar onde nós quiser, que nós também tem o direito de estar na sociedade como nós quiser. Nós tem direito a projetos e muitas coisas, mas até hoje nós não tem reconhecimento da sociedade, dos políticos, às vezes passa nem um bom dia tem coragem de nos dar, mas sabendo eles que nós tá ali, trabalhando com nossa garra para cidade ter alimento na mesa também, porque se a gente não tiver ali no campo, plantando, a cidade vai ficar com fome”.

À tarde, o grupo se reuniu em um bate-papo com a equipe do NEAM, onde foram esclarecidas dúvidas sobre a violência doméstica e a importância da denúncia (que pode ser efetuada por qualquer pessoa que tenha conhecimento do fato!), e apontados quais são os principais canais de atendimento, entre eles o “disque 100” e o 180. Além disso, foi ressaltada a importância das políticas públicas, que são fruto de uma pressão social, e das redes de acolhimento, que atuam sem julgamento às mulheres, que são seres livres. 

O evento foi avaliado positivamente pela abrangência dos esclarecimentos, aprendizado, tomada de consciência dos direitos, trocas de experiências, leveza, motivação,  confiança e força transmitida entre as mulheres, que se sentiram apoiadas,  bem como, pelo contato com a cidade, pois durante a caminhada algumas participantes observaram a reação de mulheres em possível situação de violência. 

Conforme relata Gilda América da Mota Silva, moradora do Acampamento Sol Nascente, em Sr. do Bonfim: “Fiquei emocionada quando a gente ia passando pelas ruas e eu vi uma senhora que estava emocionada quando viu o que a gente estava fazendo e precisou ser levada pela filha, naquela hora eu senti junto com ela, e fiquei pensando o que ela já deve ter passado ou pode estar passando ainda“.

Dentre os principais encaminhamentos do seminário, as participantes se comprometeram em buscar parcerias a fim de pressionar o poder público e ampliar as redes para:

  • Implementar o NEAM em todos os respectivos municípios da região; 
  • Ampliar os meios de divulgação de informações sobre os direitos das mulheres, dados e mecanismos para o enfrentamento às violências e ao feminicídio;
  • Campanhas educativas permanentes em parcerias com as escolas e meios de comunicação para reeducar meninos, meninas, homens, mulheres e toda a sociedade, tendo em vista a ruptura da cultura da violência, do estupro, do feminicídio e construção da equidade; 
  • Construir ações, instrumentos e mecanismos para uma reeducação dos agressores; 
  • Promover formação continuada com homens em combate e prevenção à violência machista e às masculinidades tóxicas. 

MULHERES UNIDAS EM DEFESA DOS TERRIÓRIOS E DA VIDA!

Veja o vídeo da manifestação:

Imagens: Thomas Bauer  e CPT Bonfim 

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