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Agroecologia, ancestralidade e capitalismo: rupturas, permanências e reconstruções

Texto produzido a partir da experiência de produção e das dificuldades da comunidade da Bocaina, sob a ótica da produtora Catarina Silva

A extração de minério e a instalação de empresas do agronegócio na região da Chapada Diamantina preocupa grande parte da população que vive nas áreas de exploração desses empreendimentos. Permeada pelo ideal da produtividade em massa e da obtenção de lucro, essas empresas impactam grandemente os ecossistemas e as relações sociais das comunidades circunvizinhas afetando diretamente no bem estar social da população. 

Comunidade da Bocaina, zona rural de Piatã, Chapada Diamantina, Bahia

Escondidas por detrás das grandes companhias exploratórias, as comunidades desenvolvem formas de sociabilidade e de produção em constante harmonia com a mãe terra e com o ecossistema aquático e terrestre, tecendo assim o bem viver e alimentando a economia do lugar. Apesar disso, a intensa poluição, degradação e impacto negativo dessas firmas, sob o meio de vivência das pessoas, acaba por enfraquecer a sociabilidade e afetar a produção de alimentos, como é o caso, por exemplo, da produtora Catarina O. da Silva, da comunidade de Bocaina, em Piatã, na Chapada Diamantina.

Com um histórico de luta e ancestralidade, Catarina nasceu em casa sob os cuidados místicos da mão de uma parteira, acontecimento que, segundo ela, era muito comum para as mulheres do tempo de sua mãe, as quais guardavam profunda fé e eram tratadas com o poder das ervas medicinais. Desde criança, ela e seus irmãos já colocavam a mão na terra, trabalhando na roça e estabelecendo relações cordiais com a mãe terra e com o ambiente, fruto da tradição ancestral de seus pais, que apreenderam com os avós dela, que aprenderam com os seus tataravós, e assim sucessivamente. “Buscamos na natureza meios de sobrevivência como ervas medicinais, matérias primas, candeia, candombá”, menciona Catarina.

Comunidade da Bocaina, zona rural de Piatã, Chapada Diamantina, Bahia

Segundo a produtora familiar, a maior dificuldade que a comunidade, produtora de rapadura, farinha, milho, café, frutas, verduras e mel de abelha, enfrenta é a extração de minério, que polui a água e envenena os alimentos através dos rejeitos. “Tive uma trajetória muito marcante. Cresci vendo a Bocaína evoluir, ao mesmo tempo que ia perdendo um pouco dos costumes, ia mudando a forma de vida das pessoas”. Isso que Catarina traz também é influência da ação dessas empresas, já que o estabelecimento delas gera um “apagamento” das relações culturais e tradicionais.

Segundo a agricultora, “para preservar o meio ambiente acho que é preciso respeitar tudo que faz parte da natureza, pensando nela, temos várias medidas para não agredi-la mais do que já é: evitamos jogar lixo em todo lugar, usar agrotóxico, adubo químico na produção, não poluir os rios…”. Essa fala demonstra o quão sublime e superior é a vivência de pessoas que produzem, permeadas pelos princípios da agroecologia em detrimento das grandes empresas que deveriam dar exemplos de responsabilidade socioambiental e de empatia. É por isso que é importante dar voz a essas comunidades. É preciso permitir que a história seja contada por quem apanha e não por quem bate.

“A agroecologia para mim, é plantar com o cuidado de manter a terra sempre fértil sem diminuir sua qualidade”.

Catarina Silva, comunidade da Bocaina

por Patrik Almeida

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